Tecnologias para a mitigação de gases do efeito estufa para a pecuária brasileira

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De acordo com relatório das Nações Unidas (2019), a população mundial deve crescer em 2 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos, passando dos atuais 7,7 bilhões de indivíduos para 9,7 bilhões em 2050. Observando o forte crescimento populacional, sabemos a importância de uma maior oferta de alimentos, sendo o Brasil considerado um dos principais atendentes deste incremento. O desafio presente e futuro é atender as maiores exigências do mercado que estão relacionados as questões sociais, condição nutricional, bem-estar animal e a sustentabilidade ambiental.

Neste contexto podemos observar as inúmeras preocupações relacionadas as questões ambientais, e sobretudo ao aquecimento global, aliado a vários setores industriais responsáveis por contribuírem na emissão de gases de efeito estufa (GEE), para o meio ambiente. Os principais gases que contribuem para o aumento do efeito estufa são o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O).

Dentre os campos da pecuária brasileira, a criação de bovinos é um dos principais alvos de discussão relacionadas a emissão de gases do efeito estufa, devido as áreas utilizadas na produção e ao número de animais inseridos nestes setores, podendo causar impactos negativos ao meio ambiente. Os gases de efeito estufa apontados na pecuária são provenientes da fermentação entérica dos ruminantes e deposição de dejetos. Apesar de todas as críticas que o ramo agropecuário vem passando nos últimos anos sendo considerado o vilão das abordagens ambientais, o nosso país vem buscando inúmeros aprimoramentos e estratégias dentro dos setores para reduzir a emissão destes gases de efeito estufa.

Uma das táticas de mitigação utilizadas, são as tecnologias que oferecem vários graus por várias estratégias de intervenção dietética, manipulando o ambiente ruminal, aumentando a eficiência na produção animal e reduzindo a emissão do CH4. O aumento na eficiência da conversão alimentar, e a utilização de nutrientes na dieta é um dos objetivos para uma pecuária sustentável (Min et al. 2020). A maior parte dos nutrientes ingeridos pelos ruminantes são fermentados no rúmen por microrganismos, principalmente a energia na forma de carboidrato e proteínas na forma de nitrogênio. A fermentação dos carboidratos resulta na produção de ácidos graxos voláteis (AGV) acompanhados pela liberação de gases como dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), que são eliminados para o ambiente por meio da eructação.

O metano produzido no rúmen é proveniente da atividade de microrganismos como as arqueobactérias, pertencentes ao gênero metanogênicas, sendo os protozoários os principais fornecedores de substrato para ação dessas bactérias (Cardoso et al. 2003). O hidrogênio liberado no ambiente ruminal através da degradação da fibra é utilizado pelas bactérias metanogênicas, obtendo energia para o seu crescimento e realizando a síntese de metano. Observando esses fatos o H2 é considerado o principal precursor para síntese de metano. Desta forma, diversos trabalhos são realizados avaliando diferentes estratégias de manejo nutricional, com a intenção de reduzir a emissão dos gases de efeito estufa pelos animais ruminantes. A utilização de aditivos como ionóforos, extratos de plantas e leveduras é considerada uma das práticas de mitigação.

Ionóforos

Os ionóforos são considerados antibióticos inseridos na dieta animal e realizam a seleção de microrganismos no ambiente ruminal. As bactérias gram-negativas responsáveis pela fermentação de ácido lático serão selecionadas e as bactérias gram-positivas produtoras de ácido acético, butírico, lático e H2, serão inibidas por esses aditivos. Neste caso há um aumento na proporção molar de propionato e redução na proporção de acetato, butirato e na quantidade de protozoários metanogênicos, diminuindo a produção de metano. Os ionóforos mais utilizados na alimentação de animais são a monensina, lasalocida, nasarina e salinomicina.

Extratos de plantas

A saponina e o tanino são considerados compostos secundários de plantas e possuem propriedades naturais para influenciar a fermentação ruminal. Os dois compostos podem ser adicionados na deita do animal em níveis adequados, através do alimento ou por extratos industriais.

As saponinas podem ser encontradas em plantas como Medicago sativa (alfafa), Brachiaria decumbens, entre outras. Esse composto tem efeito sobre os microrganismos do rúmen, inibindo o crescimento de protozoários ciliados, podendo melhorar a síntese de proteína microbiana. Além disso inibe o desenvolvimento de bactérias celulolíticas que é um microrganismo gram positivo.

Os taninos são compostos polifenólicos complexos e de alto peso molecular. Este composto se divide em dois grupos, os hidrossolúveis que pode ser tóxico ao animal, embora tenha efeito sobre a metanogênese e os condensados que possuem uma maior influência na fermentação ruminal. Os taninos agem por meio da inibição de bactérias metanogênicas e reduzem a produção de H2 no rúmen como consequência a degradação da fibra.

Os óleos essenciais são metabólitos secundários de algumas plantas, e são utilizados como aditivos naturais devido as suas propriedades antibacterianas e antifúngicas, podendo influenciar na desestabilização da membrana dos protozoários e das bactérias gram-positivas.

 Leveduras

Leveduras são fungos unicelulares eucariontes, do gênero Saccharomyces, e são utilizadas como probióticos na dieta de animais ruminantes. Estes probióticos podem modificar a fermentação ruminal, através do abastecimento de fatores estimulantes para as bactérias e também devido a sua afinidade com o oxigênio, retirando-o do rúmen e favorecendo o ambiente ruminal para microrganismos anaeróbios. As leveduras podem favorecer o crescimento de bactérias que utilizam o lactato, melhorando a estabilidade do pH ruminal e a metanogênese.

As estratégias de mitigação são essenciais dentro do setor pecuário, animais ruminantes produzem metano entérico e fazem parte de uma das diversas indústrias que emitem gases de efeito estufa. A pecuária trabalha forte e insistentemente na redução desses gases, aprimorando as técnicas de manejo, genética e alimentação. Contudo as estratégias de mitigação devem ser realizadas de forma correta, buscando informações seguras, aumentando a produtividade do sistema e garantindo a sustentabilidade.

Artigo escrito por Nayara Gonçalves da Silva | Zootecnista e doutoranda em Produção Animal pela Universidade Federal da Grande Dourados.

Referências

Cardoso, A.M., Clementino, M.B.M., Martins, O.B., Vieira, R.P., Almeida, R.V., Alqueres, S.M.C., Almeida, W.I.  Archaea:  Potencial Biotecnológico. Archaea: Potencial Biotecnológico.

n. 30, p. 71, 2003.

Min, B.R., Solaiman, S., Waldrip, H.M., Parker, D., Todd, R.W., & Brauer, D. Dietary mitigation of enteric methane emissions from ruminants: A review of plant tannins mitigation options. Animal Nutrition. v. 6,  n. 3, p. 231-246, 2020. https://doi.org/10.1016/j.aninu.2020.05.002

No, H.K., Na Y.P., Shin, H.L., Samuel, P.M. Antibacterial activity of chitosans and chitosan oligomers with different molecular weights. International Journal of Food Microbiology. v. 74, p. 65-72, 2002.

Senel, S., MCclure, S.J. Potential applications of chitosan in veterinary medicine. Advanced Drug Delivery Reviews. v. 56, n. 10, p. 1467-1480, 2004.

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