O Brasil é líder em exportação de carne bovina, possuindo o 2° maior rebanho bovino do mundo (ABIEC). preservando aproximadamente 66 % de seu território (Embrapa Territorial) e emitindo apenas 2.3 % de todos os gases de efeito estufa do planeta (WRI 2022).
Manejo sustentável
Neste sentido, o manejo sustentável de pastagens assume dois compromissos: aumentar a produtividade e ser sustentável, ou seja, produzir mais kg de carcaça por hectare, gerando o efeito poupa-terra, mitigando a emissão de gases do efeito estufa e, por conseguinte, alimentando um número maior de pessoas.
Esse aumento de produtividade é necessário, uma vez que 25% da população mundial está em condição de insegurança alimentar e caminhamos para ter 9.7 bilhões de seres humanos no mundo em 2050.
Como funcionam os sistemas de produção animal a pasto?
Assim, a fim de alcançar os objetivos, aplicamos aos sistemas de produção animal a pasto durante a época das águas, o manejo de pastagens por alturas alvo, adubação e suplementação. Tais ações permitem maior produtividade e menor pegada de carbono.
O período de águas no centro-oeste, é compreendido entre meados de setembro e final de abril, sendo caracterizado pela elevada temperatura, luminosidade e índices pluviométricos (1500 mm).
Tais características, quando combinadas, permitem o desenvolvimento e utilização das gramíneas C4, Panicuns e brachiarias (recentemente reclassificadas como Megathyrsus e Urochloa, respectivamente). Nesses pastos serão alocados os rebanhos de cria e recria.
A recria compreende a fase entre a desmama e a terminação, podendo ser dividida em duas, recria durante o período de seca e recria durante o período de águas, foco desse capítulo.
Práticas de manejo de pastagens durante o período de águas
Para o período de seca as estratégias empregadas pra permitir o constante ganho de peso desses bovinos são:
- Recria confinada (resgate);
- Pasto de integração lavoura-pecuária;
- Pastos diferidos, todas com uso de suplementação;
Por outro lado, no período de águas o crescimento vegetal é explorado ao máximo. Portanto, combinamos:
- Manejo de pastagens,
- Adubação;
- Suplementação – com o intuito de elevar o ganho médio diário e a taxa de lotação de pastagens.
A correção da acidez e dos teores de alumínio dos solos do cerrado e a utilização de gramíneas C4 africanas, (com zebuínos indianos) nos sistemas de produção animal brasileiro, permitiram que essas áreas fossem ocupadas com a pecuária de corte.
A fim de torná-la mais produtiva, diversas linhas de pesquisa no manejo de pastagens foram desenvolvidas no Brasil. A que mais se destacou é o manejo dos pastos por altura alvo (MPAA), uma forma simples e rápida de tomada de decisão no dia a dia das fazendas.
O MPAA é um resumo do entendimento, principalmente, de variáveis morfogênicas e estruturais, traduzido em recomendações de altura, por exemplo: entrada com 90 cm e saída com 45 cm (lotação rotativa), pra capim Mombaça (Megathyrsus maximus ‘Mombaça’ – Carnevalli et al., 2006; Silva et al., 2010).
Efeitos da adubação nitrogenada no processo de pastagens
Ruggieri et al., (2020) indica manejar capim Marandu a 25 cm, em lotação contínua, pois esta recomendação apresenta alta produção animal por área, contudo, deve-se avaliar também, o efeito da adubação nitrogenada e suas interações no sistema.
Baseado nisso, Ongaratto et al., (2021) estudou distintos níveis de intensificação do capim Marandu, combinando altura do pasto em 25.3 cm (p > 0.12; EPM = ±3.7) com doses crescentes de nitrogênio (0, 75, 150 kg N ha-1 ano-1, fonte nitrato de amônio) e de taxa de lotação (1.9, 2.8, 3.8 UA ha-1 ano-1; UA: unidade animal = 450 kg de peso vivo), denominando os sistemas de: Extensivo, Semi-intensivo e Intensivo, respectivamente. Ao se analisar os efeitos desses sistemas, observou-se que a massa de forragem não é alterada (± 5.4 T de matéria seca ha-1 ano-1) contudo, as variáveis morfogênicas e demais variáveis estruturais (Tabela 1) são diferentes nos distintos sistemas.
Tabela 1. Variáveis morfogênicas e estruturais do dossel de capim Marandu sob diferentes níveis de intensificação da bovinocultura de corte em lotação contínua:
Níveis de intensificação | ||||||
Variáveis | Extensivo | Semi-Intensivo | Intensivo | P-valor | EPM* | |
Filocrono1 | 13.3a | 11.7b | 9.8c | < 0.0001 | 0.06 | |
Duração de vida da folha1 | 42.2a | 41.2a | 34.7b | 0.02 | 0.31 | |
Folha2 | 0.21c | 0.27b | 0.33a | < 0.0001 | 0.01 | |
Colmo2 | 0.16b | 0.22a | 0.25a | < 0.0001 | 0.01 | |
Material morto2 | 0.61a | 0.49b | 0.42c | < 0.0001 | 0.06 | |
1dias,2%. |
Ao analisarmos os dados dos sistemas extremos, observamos que, no sistema Intensivo, há menor filocrono e duração de vida da folha, maior quantidade de folhas e menor quantidade de material morto, ou seja, um dossel que se renova frente à intensificação. Por sua vez, o sistema extensivo apresentou dados opostos aos mencionados anteriormente, demonstrando elevada perda de tecidos vegetais (Tabela 1).
Assim, as gramíneas C4 são extremamente responsivas à aplicação de nitrogênio (N), alongando suas folhas, permitindo aumento da taxa de lotação animal.
No Brasil, as principais fontes de adubo nitrogenados são: ureia, nitrato de amônio e sulfato de amônio, com 45, 32 e 20 % de N, em sua composição, respectivamente.
Corrêa et al., (2021) observou que, ureia é a fonte nitrogenada que mais volatiliza amônia, sendo: 6.3, 10.8 e 24.1 %, nas doses de 90, 180, 270 kg N ha-1 (3 aplicações), respectivamente; já a aplicação de nitrato de amônio volatiliza: 1.5, 2.58 e 5.67 % de amônia nas doses de 90, 180, 270 kg N ha-1 (3 aplicações), respectivamente.
Quadros et al., (2023), ao avaliar o efeito de distintas doses de nitrogênio (fonte nitrato de amônio) em capim Marandu, manejado a 25 cm, observou o melhor índice de nutrição nitrogenada (0.98, sendo o indicado = 1) na dose de 75 kg N ha-1 ano-1; onde não foi aplicado N foi de 0.67 e 1.16 na dose de 150 kg N ha-1 ano-1, indicando, nesse último, consumo de luxo.
Além disso, Fonseca et al., (2022) ao estudar distintas fontes de nitrogênio (ureia, sulfato e nitrato) e a mesma dose, 150 kg N ha-1, não observou diferença na produção de carcaça por kg de nitrogênio aplicado: 1 kg N = 4.2 kg de carne bovina.
Motta et al., (2023) alerta que a ausência de potássio prejudica o desenvolvimento de cultivares de Megathyrsus maximus (massa de forragem e densidade de perfilhos); a ausência de adubação potássica promoveu redução na massa de forragem de 30 a 50 %, sendo que a relação nitrogênio-potássio que proporciona maior desenvolvimento de cultivares de Megathyrsus maximus é de: 1.3:1 a 2:1.
Durante o período de águas, as gramíneas tropicais geralmente apresentam aumento nos teores de carboidratos solúveis (frações A e B1) e redução na concentração da fração de fibra indisponível C. A redução da fração C promove aumento da porção potencialmente degradável da fibra (B2), devido às interações inerentes as ligações covalentes, entre a lignina e a hemicelulose. Os componentes da fração B2 e C formam a fibra insolúvel em detergente neutro (FDN).
A FDN possui grande influência no valor nutritivo das gramíneas tropicais, devido a sua elevada capacidade de repleção ruminal, em função da sua lenta degradação pelos microrganismos ruminais, a qual influencia diretamente no consumo de forragem (Detmann et al., 2010).
O elevado fluxo de tecidos vegetais em expansão, na estação das águas também exerce grande influência nos teores de proteína bruta (PB) e sua disponibilidade. A constante emissão e remoção de folhas, em pastos bem manejados (Ongaratto et al., 2021), aumenta linearmente a concentração de PB: 10.3, 12.8, 15.0 e 17.2 % nas doses de 0, 90, 180 e 270 kg de N ha-1 ano-1 (ureia; Leite et al., 2021) e diminui a fração de nitrogênio insolúvel em detergente neutro, 19.5 ± 2.2, 17.2 ± 0.66, 16.9 ± 2.6, nas doses de 0, 75 e 150 kg de N ha-1 (nitrato de amônio; Lima et al., 2022A). Fonseca et al., (2022) ao trabalhar com distintas fontes de nitrogênio (capim Marandu), observaram claramente a alteração da fração A, com B1+B2, entre o controle e fontes de nitrogênio (mesma dose, 150 kg de N ha-1; Tabela 2).
Tabela 2. Frações proteicas em pastagens de capim Marandu adubadas com diferentes fontes de N durante a fase de crescimento de tourinhos Nelore
Variáveis | 0 | Ureia | Sulfato | Nitrato | P-valor |
Proteína bruta | 11.75c | 15.86b | 17.95a | 17.62a | 0,001 |
fração A | 48.5a | 37.0b | 33.2c | 33.5c | 0,001 |
fração B1+B2 | 25.1c | 40.3b | 45.8a | 47.1a | 0,001 |
fração B3 | 13.7a | 12.8a | 11.1ab | 7.2ab | 0.010 |
fração C | 12.7 | 9.9 | 9.9 | 12.1 | 0.167 |
Forragens com altos teores de proteína solúvel (A + B1), e consequentemente altos teores de proteína degradável no rúmen proporcionam menor eficiência de utilização de nitrogênio amoniacal ruminal e síntese de proteína microbiana, em decorrência da falta de sincronismo entre a liberação de amônia e energia no rúmen, portanto, é recomendado a suplementação energética, aos bovinos, nesses pastos (Berça et al., 2023).
Os dados de taxa de lotação e ganho médio diário contrastam, em muito, com o que era dito sobre essas variáveis no passado, em relação a utilização de gramíneas C4. Delevatti et al., (2019) ao manejar capim Marandu em: lotação contínua, altura alvo de 25 cm e distintas doses de nitrogênio (ureia) 0, 90, 180 e 270 kg de N ha-1 ano-1, observou: ganho médio diário linear decrescente de: 0.939, 0.985, 0.879 e 0.898 gramas animal−1 dia−1; e taxa de lotação linear crescente de: 3.3, 4.6, 5.8 e 6.5 UA ha−1.
Dallantonia et al., (2021), em pastos de Urochloa brizhanta, combinou sistemas de produção Leniente (0 N) ou Intensificado (150 kg de N ha-1, ureia), com bovinos Nelore ou F1 de Aberdeen Angus x Nelore, observando maior eficiência zootécnica no sistema Intensivo. Além da maior produtividade por área, foi observado a menor perca de energia, na forma de metano entérico, dos bovinos do sistema Intensivo (Tabela 3). Essa redução ocorre pela otimização da ingestão de compostos carbonados e nitrogenados no rumem, que em sincronicidade, otimizam a produção de proteína microbiana e por conseguinte emitem menos metano. Já foi relatado por Cardoso et al., (2020) que bovinos em sistemas de recria, consumindo apenas capim Marandu, apresentam emissão de metano entérico semelhante (132 gramas dia-1) ao que o Painel Intragovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) relata, 149 gramas dia-1.
Tabela 3. Sistemas de recria de bovinos Nelore e F1 Aberdeen Angus x Nelore
Variáveis | Sistema Leniente | Sistema Intensivo | P-valor | |||||
Nelore | F1 | Nelore | F1 | Raça | Sistema | R*S | ||
GMD1 | 0.88 | 0.97 | 0.95 | 1.22 | < 0.0001 | < 0.0001 | 0.0005 | |
TL2 | 1.75 | 1.94 | 4.30 | 4.69 | 0.01 | < 0.0001 | 0.33 | |
CH43 | 138.3 | 158.3 | 109.8 | 87.1 | 0.90 | 0.0002 | 0.056 |
1 GMD: ganho médio diário (kg/dia); 2 TL: taxa de lotação: UA ha-1; 3gramas dia-1.
Impacto ambiental e sustentabilidade no manejo de pastagens
O óxido nitroso é um dos gases do efeito estufa na pecuária e segundo o IPCC tem o fator de emissão de: 2% pra fezes + urina e 1% pra adubos nitrogenados. Ongaratto et al., (2023) estudou a combinação de fezes e/ou urina com doses crescentes de nitrogênio (nitrato de amônio). Foi observado que a combinação fezes + nitrogênio, tem os seguintes fatores de emissão: 0.11, 0.13 e 0.42 %, pra fezes, fezes + 75 kg N ha-1 ano-1 e fezes + 150 kg N ha-1 ano-1, respectivamente. Já a combinação de urina + nitrogênio, tem os seguintes fatores de emissão: 0.19 % urina, 0.58 % urina + 75 kg N ha-1 ano-1 e 1.03 % urina + 150 kg N ha-1 ano-1. Portanto, se somarmos os valores das excretas, em pastos não adubados (0.30 %) e na dose máxima de nitrogênio (1.45 %) observamos que é necessário quantificar esses fatores de emissão, pra cada sistema pecuário brasileiro, tornando esses valores mais fidedignos.
A quantificação desses dados nacionais de gases de efeito estufa, tornam o cálculo de pegada de carbono mais realista. Por exemplo, a média de pegada de carbono é de 29.3 kg CO2eq kg carcaça−1 (Cardoso et al., 2016), em sistemas de recria no Brasil. Foi observado por Lima et al., (2022B) que a pegada de carbono, na recria de tourinhos nelore, em distintos níveis de intensificação, é: 5.8, 7.3 e 8.35 kg CO2eq kg carcaça−1, sendo: 0, 75 e 150 kg de N ha-1, respectivamente. Já Dallantonia et al., (2021) ao avaliar recria e terminação, conclui que bovinos F1 (Aberdeen Angus x Nelore) em sistema Intensivo e bovinos Nelore em sistema Leniente, apresentam menor pegada de carbono, 11.9 e 10.7 kg CO2eq kg carcaça−1, respectivamente.
Assim, ao observarmos esses dois estudos, e suas pegadas de carbono, podemos concluir que a intensificação do sistema produtivo reduz a pegada de carbono e a combinação de recria a pasto com confinamento, é a melhor opção em termos de encurtamento do período produtivo e sustentabilidade, pois os bovinos serão abatidos antes dos 2 anos de idade.
Conclusão
Como conclusão, percebemos que apesar de todos esses dados que comprovam a eficiência dos sistemas produtivos de bovinos de corte a pasto, os produtos de origem animal são frequentemente criticados pelos consumidores, devido a preocupações relacionadas à competição por alimentos, entre humanos e animais.
Contudo, o ruminante é capaz de converter produtos de baixo/nenhum valor nutricional aos humanos (pasto e subprodutos, nomenclatura: human-inedible feed; tradução: alimentos que não competem com alimentação humana) em alimentos de alto valor biológico, carne. Dessa forma, modelos vêm sendo desenvolvidos a fim de estimar a contribuição líquida de proteína da cadeia produtiva da carne, em suprir as exigências nutricionais humanas de proteínas (NPC).
O NPC representa tanto a conversão quantitativa, de proteína produzida + consumida (carne), quanto a conversão qualitativa (perfil de aminoácidos). Um NPC > 1 indica que a cadeia está contribuindo, positivamente, em atender às exigências humanas de proteína, sem haver competição; enquanto um NPC < 1 indica competição. O estudo de Lima et al., (2022A), com sistemas de recria de bovinos a pasto, utilizando somente alimentos não comestíveis por humanos, apresentou NPC > 1, em todos os cenários, sendo: 212.7 (0 N), 242.7 (75 Kg N ha-1) e 232.7 (150 kg N ha-1).
O manejo dos pastos por altura alvo, combinado com doses de nitrogênio moderadas, suplementação energética, permite melhora na disponibilidade de nutrientes, eleva o ganho médio diário dos bovinos, aumenta a taxa de lotação por hectare, por conseguinte, diminui a emissão de metano entérico.
Já os fatores de emissão do óxido nitroso estão, no mínimo, 50% abaixo dos relatórios do IPCC e a carne que produzimos é via human-inedible feed, portanto a otimização do pasto, durante a época das águas, gera mais alimentos, por conseguinte, alimenta mais pessoas e cumpre o papel social, exigido, da pecuária de corte: produtividade e sustentabilidade.
Procurando soluções para cuidar da sua pastagens? Conheça a linha MPasto, da Mosaic. Com fertilizantes de alta performance específicos para pastagem, ela aumentará o peso e a rentabilidade do seu rebanho.
Este artigo foi útil? Avalie