A silagem produzida a partir da cultura de trigo (Triticum aestivum0 L.) tem se tornado uma alternativa para a produção de volumoso conservado para a nutrição animal na região sul do país, uma vez que essa região apresenta as condições edafoclimáticas ideais para a cultura.
Notoriamente a cultura de milho é reconhecida como a planta “ideal” para produção de volumoso conservado na forma de silagem, devido seus parâmetros bromatológicos apresentarem boas condições para fermentação e alto teor energético, além de sua produção e custo/ha serem atrativos e economicamente viáveis. No geral, a silagem de milho apresenta em torno de 8 a 9% de PB, 53% de FDN, 30% de FDA e 67% de NDT (Rodrigues et al., 2002).
Quais são as vantagens da silagem de trigo?
Uma pergunta válida sobre o assunto é: “Se a silagem de milho é tão vantajosa, por que a silagem de trigo vem ganhando espaço, e se tornando uma opção interessante para nutrição dos rebanhos no Sul do Brasil?“
A cultura de milho safra para silagem é normalmente implantada no mês de setembro a outubro e colhida do final de dezembro a janeiro. Assím, é possível em algumas situações um segundo plantio de milho para produção de silagem (milho safrinha), implantado em janeiro/fevereiro e colhido em março/maio).
Na sequência, entramos no período de outono/inverno nessa região, ou seja, a entressafra. Normalmente, nesta época não existe “competição” de áreas para outras culturas agrícolas como soja, milho, feijão, etc. Além disso, o período de inverno se caracteriza por clima frio e úmido, propício para a produção de forrageiras de inverno como aveia, azevém e o trigo, que podem ser aproveitadas, tanto para pastejo quanto para produção de volumoso conservado.
Atualmente, temos cultivares de trigo próprias para a confecção de silagem. Essas cultivares apresentam vantagens como:
- Menor concentração de material estrutural (lignina, por exemplo);
- Melhor valor bromatológico;
- Não possuem aristas (filamentos encontrados nas extremidades da espigueta de trigo, aveia, cevada e centeio).
Apesar de ainda não existir uma comprovação científica de que as aristas presentes nas espiguetas causam lesões no trato digestivo dos animais ao longo do tempo, muitos nutricionistas acreditam que o consumo dos animais pode ser afetado pela presença dessa estrutura.
Como utilizar a silagem de trigo e quais os pontos de atenção no cultivo?
A silagem de trigo pode ser utilizada principalmente na nutrição de vacas leiteiras e tem se destacado pelo teor de PB (cerca de 12%), energia (cerca de 18% de amido) e NDT (cerca de 68%), convertidos em boas produções de leite.
No entanto, antes do cultivo do trigo com destinação à produção de silagem, devemos levar em consideração alguns pontos. Primeiro, como mencionado acima, essa é uma cultura que necessita de clima frio para seu pleno desenvolvimento, portanto, a produção desse volumoso fica limitada à condição climática nas diferentes regiões do Brasil.
Outro ponto de atenção se refere ao manejo de adubação. Em geral, as recomendações de adubação dependem basicamente da fertilidade e textura do solo. Porém, quando falamos em produção de silagem (independente da cultura utilizada), é de suma importância levar em consideração a expectativa de produção e a exportação dos nutrientes do solo.
Em geral, culturas destinadas à produção de grão exportam menor quantidade de nutrientes do solo, uma vez que parte desses nutrientes retorna ao sistema através da palhada. No caso de produção de volumoso conservado (silagem, feno ou pré-secado), não temos reposição de nutrientes pela palhada, pois praticamente toda estrutura da planta (colmo, folhas e grãos) são colhidas e transportadas ao silo. Por esse motivo, busque sempre a orientação de um profissional da área para auxiliar na correta recomendação da adubação para culturas destinadas à conservação.
Pensando nesses desafios, a Mosaic possui uma linha exclusiva para a nutrição das plantas forrageiras e também de cultivares para produção de silagem, feno e pré secado. A linha Mpasto é uma linha de produtos pensada e formulada com tecnologias que atendem de maneira completa e eficiente as necessidades das plantas forrageiras, além da alta qualidade física dos grânulos melhorando a eficiência no momento da adubação.
Ponto de colheita para a silagem de trigo
O pecuarista também precisa ficar atento ao momento de colheita e processo de ensilagem desse material, pois possui algumas distinções quando comparado à cultura do milho. Assim, identificar o teor de matéria seca ideal é essencial para a assertividade no processo de ensilagem. O teor de matéria seca ideal no trigo para a produção de silagem gira em torno de 33 a 38%, durante a fase pastosa dos grãos (imagem 1). Podemos dizer que nesse ponto teremos uma boa concentração de nutrientes como proteína e amido e também produtividade/ha.
Deve-se tomar cuidado para não ultrapassar esse indicador de MS, pois isso implicará em dificuldade de compactação do material no silo e consequentemente problemas fermentativos que podem reduzir a qualidade e aceitabilidade da silagem pelos animais.
Imagem 1: Ponto ideal para a colheita da silagem de trigo.
A altura de corte gira em torno de 10 a 15 cm, conforme a altura das últimas folhas verdes da planta, assim otimizamos a produção de massa seca por hectare e conservamos a qualidade e aproveitamento dos nutrientes.
Quanto ao tamanho de picado, a literatura indica tamanho de partículas entre 1,5 a 3,5 cm. Assim, teremos maior facilidade de compactação do material no silo sem perder a qualidade da fibra fisicamente efetiva (FDNef), responsável pela manutenção das funções ruminais, mastigação e motilidade.
Como incluir a silagem de trigo na dieta do rebanho?
Assim, em relação à sua inclusão na dieta, pesquisadores apontam que para vacas de alta produção, a associação de silagem de trigo com milho melhora significativamente os parâmetros físicos da dieta, em função da melhor FDNef, comparada à silagem de milho.
Portanto, a inclusão de 10 a 30% de silagem de trigo na dieta é capaz de manter a produção e a saúde ruminal de vacas de alta produção. Já para vacas pré-parto, vacas secas e animais jovens que apresentam menor demanda energética, a inclusão de silagem de trigo na dieta pode ser de 40 a 100% da forragem.
Conforme discutido ao longo do texto, o uso do trigo na forma de silagem vem se consolidando, principalmente para evitar ociosidade do solo e também aumentar a produção de alimento para os animais na propriedade.
No entanto, um ponto de atenção é o custo de produção da silagem de trigo, um pouco mais alto quando comparado a silagem de milho, em função da menor produtividade por hectare quando comparamos as duas culturas (milho x trigo).
Por esse motivo antes de decidir em produzir trigo para ensilagem o pecuarista deve estar atendo a essas características da cultura. Afinal, seguindo as boas práticas de produção e as orientações de um técnico capacitado, o pecuarista terá maior índice de sucesso na produção desse tipo de volumoso com alto valor nutricional.
