No Brasil, a avicultura é uma atividade importante economicamente e indispensável na dieta alimentar da maioria da população. A avicultura brasileira visa atender o mercado fornecendo produtos de ótima qualidade, garantindo segurança alimentar, além de atuar com responsabilidade ambiental. Devido ao intenso melhoramento genético a que as linhagens atuais de frango de corte são submetidas, a capacidade do animal em converter alimento em músculo, proporcionando melhores rendimentos de cortes nobres em curto espaço de tempo, é surpreendente.
No entanto, tais benefícios alcançados pelo frango moderno exigiram mudanças nos valores nutricionais das dietas, principalmente em energia, proteína e aminoácidos. A nutrição possui um peso significativo nos custos de produção dos animais e, por esse motivo, é intensa e constante a busca por novos ingredientes que possibilitem bons índices de desempenho com baixo custo. Com a crescente produção do biodiesel, um novo produto surge como um potencial ingrediente energético para alimentação animal: a glicerina bruta, um co-produto da produção de biodiesel. A obtenção do biodiesel e da glicerina ocorre de acordo com a figura 1.
A utilização da glicerina bruta na formulação de rações para aves desperta interesse imediato por se constituir em um produto rico em energia (4.320 kcal de energia bruta por kg para o glicerol puro) e com alta eficiência de utilização pelos animais.
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a glicerina bruta para ser usada na alimentação animal como ingrediente de rações deve conter no máximo 150 ppm de metanol, 12% de umidade e no mínimo 80% de glicerol, além de valores controlados de sódio e potássio. Isso porque, o metanol em excesso é tóxico aos animais, e pode causar cegueira em frangos de corte. Essa toxidez é provavelmente devida a sua mobilização em formaldeído que causa efeitos danosos nas células da retina. Outro resíduo importante e que deve ser controlado é o sódio que em excesso pode causar um desbalanço eletrolítico no animal (Cerrate et al. 2006).
Figura 1 – Rota de obtenção de biodiesel e glicerina
Fonte: Parente, E.J. de S. 2003.
Na literatura atual, encontramos poucos trabalhos disponíveis, porém alguns trabalhos já estão publicados, mostrando efeitos da glicerina, oriunda de diferentes fontes e características, sobre o desempenho, características de carcaça e da carne de suínos e aves, bem como sobre características químicas e valores energéticos da glicerina.
Waldroup (2006) demonstrou que animais com até 16 dias de idade, não apresentaram problemas quando se administrou até 10% de glicerina na dieta. Entretanto, quando for usado em todas as dietas, até o abate, este nível não deverá ultrapassar 5% pois afeta o consumo da dieta, conseqüentemente o desempenho dos animais.
Cerrate et al. (2006) confirmaram as observações de Waldroup (2006) quando verificaram que a inclusão de 10% de glicerina comprometeu o desempenho e o rendimento de carcaça de frangos Cobb 500. Os autores acreditam que as perdas de desempenho e de qualidade de carcaça dos frangos pode ter sido devida à dificuldade delas de fluir nos comedouros, uma vez que a qualidade dos peletes (granulado) ficou prejudicada, além de provocarem alta produção de excretas líquidas (diarréia), o que umedeceu mais a cama e causou desconforto e estresse às aves.
A inclusão de 10% de glicerina bruta na dieta pré-inicial de aves e, 5% nas demais fases, vem se mostrando interessante na maioria das pesquisas, no entanto, por ser um ingrediente novo e com poucos dados científicos, ainda é necessário cautela e muitos estudos para comprovar e garantir sua utilização de forma viável.
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