Influência do pré-parto no sucesso da atividade leiteira

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A atividade leiteira mundial passa por avanços extremamente rápidos e dinâmicos nos aspectos genéticos, tecnológicos e nutricionais. Tal dinâmica faz com que, cada vez mais, os pequenos detalhes definam o sucesso ou o fracasso da atividade.

Os profissionais, nutricionistas dos ruminantes, sempre estão atrelados aos índices zootécnicos como indicadores da eficiência do sistema produtivo. E quando se trata da pecuária de leite, o intervalo entre partos (IEP) é o índice zootécnico mais relevante. Quer dizer que, quanto menor ou mais próximo de 12 meses o IEP, mais eficiente está o sistema como um todo e vice-versa.

Acontece que na Empresa rural atual e moderna as CAUSAS têm que estar acima dos EFEITOS. Para tanto, deve-se localizar, pontualmente, o que mais contribui para o IEP ser curto ou longo, eficiente ou ineficiente na pecuária de leite. Para vacas de alta produção, o manejo nutricional eficiente no PRÉ- PARTO é, sem dúvidas, o maior responsável pelo bom desempenho em toda a lactação subsequente. Consequentemente, é ele quem mais interfere no intervalo entre partos, como será explicado em seguida.

A hipocalcemia (febre do leite ou paresia puerperal) é a doença que  mais acomete vacas no período de transição. É ocasionada por uma súbita e elevada demanda de cálcio para o desenvolvimento fetal acelerado e a produção de colostro nos últimos dias antes do parto.

Um animal, que apresenta hipocalcemia, tem maior incidência de outras desordens metabólicas como a mastite, metrite, prolapso uterino, cetose e retenção de placenta, que se traduzem em sérios prejuízos como a queda na produção de leite, descarte prematuro de animais, baixa rentabilidade da atividade e atrasos na reprodução. Portanto, tais desordens é que elevam os índices do IEP.

Uma solução eficaz para redução da ocorrência da hipocalcemia é a introdução de uma dieta aniônica bem balanceada nos 30 dias que antecedem ao parto. A adição de ânions provoca a indução de uma acidose metabólica, mobilizando o cálcio existente nos ossos e o disponibilizando na corrente sanguínea, para que seja utilizado pela glândula mamária e para o feto prevenindo, assim, a hipocalcemia.

O balanço catiônico-aniônico de dietas (BCAD) influencia na incidência da febre do leite. Dietas com altos níveis de cátions, especialmente Na e K, tendem a induzir este distúrbio metabólico. Por outro lado, altos níveis de ânions, principalmente Cl e S, podem prevenir a doença. Portanto, a incidência de febre do leite depende da abundância dos cátions Na+ e K+ em relação aos ânions Cl e SO42-. Esta diferença cátion-aniônica da dieta é dita como BCAD.

Como utilizar, na prática, dietas aniônicas

Deve-se utilizar pelo menos três, dos seis minerais aniônicos existentes, para alcançar uma dieta total aniônica (BCAD negativo). As fontes minerais aniônicas disponíveis são:

  • Sulfato de Magnésio (mais palatável);
  • Sulfato de Amônio;
  • Sulfato de Cálcio;
  • Cloreto de Magnésio;
  • Cloreto de Amônio;
  • Cloreto de Cálcio (menos palatável).

Estes minerais podem ser introduzidos, em separado, na dieta total ou através de um NÚCLEO MINERAL ANIÔNICO, o que é mais comum e prático. Estes núcleos são compostos basicamente por macro minerais (P, Ca, Na, Mg, S), micro minerais (Cu, Co, Se, I, Mn, Zn), aditivos como palatabilizantes, ionóforos, vitaminas e minerais aniônicos que irão negativar a soma total das cargas.

Para fazer uma ração concentrada pré-parto, deve-se misturar o núcleo aniônico com fontes proteicas e energéticas como milho integral moído, farelo de soja e farelo de trigo. O farelo de soja possui BCAD muito positivo e, portanto, deve ser utilizado em mínima quantidade necessária para atingir o nível de proteína da ração.

Com relação aos volumosos, deve-se dar preferência à utilização de silagens de milho ou sorgo. Volumosos como cana de açúcar, pastagens diversas, silagens de capim e leguminosas, de uma maneira geral, são ricos em potássio (K+), portanto, prejudiciais ao BCAD negativo.

A dieta pré-parto deve ser fornecida 30 dias antes do parto (ideal). Dependendo do manejo da propriedade, pode-se aguardar uns dias para se agrupar um maior número de animais para se iniciar o pré-parto (ex: quando vacas secas ficam distantes do núcleo de produção de leite, onde deve ser  feito o pré-parto) porém, nunca menos que 21 dias.

A dieta total deve ter em torno de 14 a 15% de proteína bruta (PB), 55 a 60% de energia (NDT), algo em torno de 35% de fibra (FDN) com base na matéria seca (MS). A ingestão média de MS de 2% do peso vivo (PV) ao dia. A ração concentrada não deve exceder 1% do PV ao dia. Assim sendo, vacas em pré-parto irão ingerir cerca de 2 a 3 Kg de ração concentrada por dia com base na matéria original (MO). A dieta deve ser dividida em, pelo menos, 2 tratos diários.

Deve-se restringir o fornecimento de suplementos minerais, sal comum e bicarbonato de sódio neste período. Os teores de Na e K devem atender somente às exigências diárias destes elementos a fim de evitar o edema do úbere.

Durante o período seco, que compreende os 30 dias entre o momento da secagem até o início do pré-parto, deve-se restringir o fornecimento de silagem de milho e ração concentrada para que os animais não entrem obesos no pré- parto. O escore de condição corporal (ECC) deve estar próximo de 3,5. Portanto, a utilização de dietas aniônicas para vacas no pré-parto é de grande importância, tanto produtivamente quanto economicamente, pois pode reduzir a incidência de distúrbios metabólicos e elevar a eficiência produtiva e reprodutiva de sistemas de produção leiteira, principalmente reduzindo o intervalo entre partos.

Luciano Sá Zootecnista | Supervisor Técnico – FLENDS Nutrição Animal

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