LINA – Leite Instável Não Ácido

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Como este assunto gera muita dúvida aos produtores e a técnicos ligados à área, acredito ser interessante esclarecer alguns pontos sobre LINA.

            Uma amostra de leite normal é caracterizada por reação negativa à prova do Álcool (mín. 72°), valores de Dornic de 14 – 18° e pH de 6,6 – 6,8; além de atender os requisitos mínimos de CBT e CCS determinados pela IN62.

O leite instável não ácido é caraterizado por reação positiva da amostra de leite ao Teste de Álcool (precipitação positiva) e no Teste Dornic o resultado é abaixo de 18°, isto é, a amostra encontra-se dentro do limite de normalidade do pH do leite (14 – 18°) ou mesmo abaixo, caracterizando uma amostra alcalina.

            O LINA (Leite Instável Não Ácido) é um problema no sistema de produção de leite que resulta em prejuízos a toda cadeia produtiva. Ele acomete rebanhos leiteiros e se caracteriza por apresentar alterações nas características físico-químicas do leite.  A principal alteração identificada é a perda da estabilidade da caseína ao teste do álcool, resultando em precipitação positiva, sem haver acidez elevada (acima de 18ºD) (ZANELA, 2004). A ocorrência de LINA apresenta sazonalidade ao longo do ano.  Períodos de maior ocorrência geralmente coincidem com escassez alimentar, ou mudanças na dieta dos animais. Essas variações diferem entre as regiões estudadas.   A maioria dos autores encontrou menores teores de lactose e sólidos desengordurados no leite instável, comparado ao leite normal. A menor concentração de componentes lácteos pode resultar em menor rendimento na produção de derivados lácteos.

  1. Fatores nutricionais

            A relação entre nutrição e a ocorrência do LINA foi  um dos fatores amplamente avaliado, sendo  os  estudos  realizados  sob  duas  abordagens:  induções  experimentais  e tratamento do LINA. As Induções Experimentais consistiam em experimentos nos quais utilizavam-se animais que  apresentavam  leite  normal,  e  por  meio  de  restrições  alimentares  buscava-se induzir casos de leite instável. Vários estudos foram realizados.  Utilizando níveis de restrição de 40%, Zanela et al. (2006)  e  Barbosa  et  al.  (2012)  verificaram  que  o  leite  de  vacas  submetidas  a  restrição apresentaram mais instabilidade ao teste do álcool.  Nesses experimentos os quadros de LINA se instalavam rapidamente, cerca de 2 dias após a mudança na dieta dos animais. A baixa disponibilidade de matéria seca na  pastagem  ou  a  restrição  do  tempo  de pastejo também são consideradas formas de restrição alimentar. A redução em 50% da oferta de pasto (Tifton 85) diminuiu a concentração mínima de álcool necessária para desestabilizar as amostras de 75,8 para 69˚GL (FRUSCALSO et al., 2013). O ajuste de dietas visando atendimento às exigências nutricionais dos animais auxilia na melhoria da estabilidade do leite ao teste do álcool, entretanto, a recuperação do quadro de estabilidade pode variar, demorando de 1 a 3 semanas, dependendo do caso.

  • Fatores Não Nutricionais

            2.1 Tempo lactação

            Barros et al. (1999) observaram maior incidências de amostras positivas no teste do álcool no início da lactação. Essa reduzida estabilidade nos primeiros dias pós parto pode ser conseqüência da baixa estabilidade do colostro. Segundo esses autores, o avançar da lactação promove  aumento  na  estabilidade  láctea,  a  qual  volta  a  reduzir  nos  últimos  dias  do  estádio lactacional.

            Marques  et  al.  (2010)  avaliaram  o  efeito  de  duas  dietas:  baixo  e  alto  nível  de suplementação,  fornecidas  a  vacas  em  estádio  avançado  de  lactação  e  não  encontraram diferença  na  estabilidade  do  leite  ao  teste  do  álcool.  Tal efeito pode estar associado a alterações no equilíbrio salino do leite.

            2.2 Estresse térmico

            O estresse provocado por elevadas temperaturas promove significativas alterações fisiológicas nas vacas leiteiras. Além de reduzir o consumo de alimentos, elevar a temperatura retal e frequência respiratória, reduz a produção de leite, entre outros. Abreu et al. (2011) submeteram vacas da raça Holandês a elevadas temperaturas e sem acesso à sombra por um período de cinco dias e perceberam redução significativa na estabilidade do leite ao teste do álcool, a qual atingiu valores de 70,83˚GL. Os autores sugerem a redução da estabilidade em decorrência de um quadro de acidose metabólica, como alegado por Marques et al. (2011), em resposta  compensatória  a  alcalose  respiratória  desencadeada  pelo  aumento  da  taxa respiratória.

            2.3 Mastite

            Não existe um consenso entre os autores com relação a instabilidade do leite e a mastite.  Alguns autores  afirmam  não  haver  relação  positiva  entre  a  mastite  e  a  instabilidade (Donatele et al., 2003; Zanela, 2004; Negri et al., 2001).  Por outro lado  (Oliveira et al.;  2011; Marques;  2004)  identificaram maior  contagem  de  células  somáticas  no  leite  instável,  quando comparada com o valor médio obtido para o leite estável. Entretanto, os trabalhos citados dizem respeito a amostras de leite de conjunto, ou de animais individuais, o que  pode comprometer os resultados das análises devido à mistura do leite de animais saudáveis com o leite de animais com mastite, ou de quartos saudáveis com quartos mastíticos. Kolling (2012) avaliou a relação entre a contagem de células somáticas do leite oriundo de diferentes quartos mamários de vacas com mastite subclínica. Nesse estudo, as amostras foram coletadas dos quartos mamários de forma individual,  sendo  que  não  houve  diferença significativa da instabilidade do leite dos quartos mamários saudáveis e dos mastíticos.

2.4 Caiônico

            Tsioulpas  et  al.  (2007),  Chavez  et  al.  (2004),  Barros  et  al.  (2000)  compararam  leite positivo ou  negativo no  teste do álcool a 76˚GL e  encontraram valores médios de Ca2+ mais elevados  em  amostras positivas, indicando que a concentração de álcool necessária para induzir a coagulação  das  proteínas  é  inversamente  proporcional  ao  teor  de  cálcio  iônico  do leite.  Por outro lado Barbosa  et  al.  (2010)  em  um  trabalho  envolvendo  diferentes  níveis  de energia e proteína na dieta de vacas em lactação não encontraram correlação do cálcio iônico com a estabilidade do leite ao teste do álcool.

            A qualidade do leite produzido nas unidades de produção de leite (UPL) é resultado de

uma  série  de  fatores  relacionados  aos  sistemas  de  produção  que  interagem  de  forma

complexa.

            O LINA não é leite ácido. Os fatores que causam são diferentes e as formas de solução

dos  problemas  também.  O Leite Ácido é causado pela ação bacteriana na degradação da lactose (açúcar do leite) transformando-a em ácido lático e elevando a acidez do leite (acidez titulável >18ºD ou pH<6,6). Nesse caso, a solução do problema passa pela obtenção higiênica do leite e pelo resfriamento adequado (4°C).

No LINA o problema é causado pelo desequilíbrio no sistema de produção, principalmente pela  alimentação  inadequada  em  quantidade  e  qualidade,  estresse  calórico  e lactação prolongada. O LINA apresenta acidez normal ou alcalina (≤18ºD ou pH ≥ 6,6). A primeira providência quando ocorre um caso de rejeição do leite pelo transportador (quando o leite é positivo no teste do álcool) é diferenciar se o caso é LINA ou Leite Ácido.

Vale a pena salientar que apenas com o teste do álcool não é  possível estabelecer a acidez do leite. É importante também frisar que o teste deve ser feito após a refrigeração do leite, e nunca deve ser feito logo após a ordenha.

A prevenção ou tratamento do LINA deve levar em conta o planejamento nutricional do rebanho,  a  secagem  de  vacas  com  lactações  muito  prolongadas  (acima  de  305  dias)  e  a adequação  do  ambiente  para  evitar  o  estresse  calórico.  Após  instalado  o  problema,  muitas vezes, é necessário esperar uma a duas semanas para que o  tratamento surta efeito,  por isso é melhor prevenir. O LINA  pode  ser  pasteurizado  e  utilizado  para  produção  de  derivados  lácteos  sem

Apresentar risco ao consumo, desde que o leite apresente boas condições sanitárias e higiênicas previstas na legislação. Mais estudos são necessários para elucidar possíveis variações de rendimento e qualidade dos derivados lácteos produzidos.

Escrito por Stephen Janzen | Nutricionista Animal | QUIMTIA

Referência Bibliográfica: Minicurso “Leite instável não ácido: do campo à indústria”

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