Nutrição e imunidade em bovinos: a relação da saúde com a produtividade

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Nutrição, sanidade e genética: esse é o tripé que sustenta a produção de bovinos. Para alcançar máxima eficiência e lucratividade dos sistemas, esses aspectos são considerados imprescindíveis e devem estar muito bem equilibrados entre si. De nada adianta utilizar genética de ponta, se faltar nutrição para o animal expressar todo seu potencial intrínseco o que, além de baixo desempenho, poderá levar ao adoecimento.

Saúde é sinônimo de boa imunidade, ou seja, o organismo bem nutrido está preparado para reagir aos desafios sanitários causados pela exposição a bactérias, vírus, parasitas, toxinas ou outros possíveis fatores estressantes como manejo, desmama, transporte e temperaturas extremas que podem suprimir o sistema imunológico e desencadear respostas inflamatórias.

Animais em desafio sanitário possuem suas exigências elevadas e, caso continuem recebendo a mesma nutrição, não desempenharão como esperado pois o organismo priorizará o restabelecimento da saúde. Nutrientes como proteína, energia, minerais e vitaminas que seriam utilizados para funções produtivas, se deslocam para a  ativação do sistema imune, produção de anticorpos e apoio no combate ao processo de inflamação.  

A imunidade deve ser proveniente de uma boa nutrição e redução do uso de substâncias químicas. Essas boas práticas impactam diretamente no aumento da produtividade e na qualidade dos produtos finais, sejam eles leite ou carne, sem causar resistências ao decorrer da cadeia e inclusive, vai ao encontro com as demandas de uma população numerosa e com crescentes exigências.

Quais as principais matérias-primas para a alimentação dos bovinos e seus principais substitutos?

Os alimentos para bovinos se dividem nas categorias volumosos, concentrados, suplementos e aditivos. Os volumosos, como o próprio nome remete, são aqueles que possuem altos teores de fibra em sua composição, como é o caso das forragens, silagens, fenos e palhadas.

Já os concentrados podem ser classificados como proteicos (farelo de soja, torta de algodão) ou ainda os energéticos como o milho, sorgo ou farelo de arroz. Minerais e vitaminas são usualmente acrescentados aos suplementos e rações bem como os aditivos: probióticos, tamponantes, ionóforos, palatabilizantes, etc.

Para cada categoria de matéria-prima, é possível encontrar substitutos aos convencionalmente utilizados mesmo que com limitações de inclusão devido à suas características. Resíduos de cultura e coprodutos da indústria são usualmente utilizados em dietas de bovinos quando seu custo-benefício se mostra positivo.

Acima de tudo, para a escolha de quais ingredientes irão compor a dieta dos animais, é importante analisar a qualidade e a segurança dos mesmos. Nunca devem ser utilizados aqueles que contenham contaminantes, sejam eles de natureza química, física ou microbiológica.

Matérias-primas de origem duvidosa, que contenham contaminantes como metais pesados, dioxinas, micotoxinas, ingredientes mofados, rancificados ou com qualquer outro indício de deterioração, tem seu uso proibitivo sob pena de comprometimento do desempenho e saúde animal em consequência de distúrbios metabólicos e intoxicações.

Quais são os principais nutrientes para a alimentação dos bovinos?

As exigências nutricionais de bovinos se dão por macro e micronutrientes provenientes dos ingredientes de uma dieta (incluindo a água). Os ruminantes precisam de macro nutrientes como carboidratos, lipídeos, proteínas e micronutrientes como vitaminas e minerais. Também possuem exigências de fibras, que são necessárias para o bom funcionamento do trato digestório provenientes principalmente das forragens.

Quando são utilizados rações e suplementos de alta qualidade, é possível reunir níveis ótimos de diversos nutrientes em um só produto e dessa forma favorecer um maior crescimento, ganho de peso e rentabilidade.

Para garantir bons índices produtivos, incluindo o retorno da atividade, deve-se considerar no momento da formulação, uma visão do todo, onde além de dados como categoria, raça, idade e nível de produção, considerar também o estado de saúde animal e os desafios do ambiente. Desta forma, a nutrição de precisão chegará o mais próximo possível da necessidade nutricional e da produção com menores danos ambientais, como poluição das águas, do solo e emissão de gases.

Como os nutrientes exercem influência na imunidade dos bovinos?

Nutrientes ligados ao sistema imune são demandados em maior quantidade quando do animal em desafio, por exemplo, muito tem se falado em minerais e vitaminas que, ao serem administrados aos bovinos na desmama, melhorariam a resposta imunológica. Neste ponto, entra em cena o conceito de imunonutrição que impacta diretamente na forma com que o metabolismo utilizará os nutrientes em ordem prioritária. Fazem parte deste grupo alguns aminoácidos, nucleotídeos, lipídios, vitaminas e oligoelementos.

Os aditivos à base de leveduras, por exemplo, podem ser considerados imunonutrientes e possibilitam a redução do uso de antibióticos, preparando melhor os animais para enfrentar condições ambientais adversas.

Embora vários minerais sejam importantes para o funcionamento geral do corpo, selênio, zinco, cobre e cromo são especificamente importantes para o funcionamento adequado dos componentes imunológicos, como o reconhecimento de patógenos e a resposta de anticorpos.

O zinco é muito importante na fisiologia animal e a deficiência deste causa severa perda de apetite, retardo no crescimento, piora no desempenho reprodutivo e leva ao aparecimento de lesões de pele. Esse mineral faz parte de diversas enzimas importantes na imunologia do animal bem como o selênio e a vitamina E que agem de maneira semelhante, interferindo no controle dos radicais livres (agentes antioxidantes).

Na deficiência de zinco, ocorre o mau funcionamento do sistema imunológico com a atrofia do timo (órgão responsável pela produção de células imunes chamadas linfócitos T) e a diminuição na produção de anticorpos (resposta imunológica humoral).

A suplementação de selênio mostrou-se capaz de melhorar as respostas imunológicas auxiliando na produção de anticorpos e demonstrou-se benéfica no tratamento de inflamações e na proteção ao aparecimento do câncer. Este mineral, presente em mais de 30 proteínas no organismo, concentra-se em tecidos como o baço, o fígado e os linfonodos envolvidos na resposta imunológica.

As vitaminas são compostos orgânicos necessários em poucas quantidades no organismo, todavia indispensáveis para as funções e reações metabólicas, fisiológicas e imunes das células, necessárias para a manutenção da saúde animal, além de atuarem como imunoestimulante.

As vitaminas A, B6, B12, C e E também possuem papel essencial para a resposta imunológica adequada. Alguns autores não encontraram vantagens na suplementação das vitaminas A, D e E em bovinos, sugerindo que a própria alimentação, quando composta por forragens frescas e exposição ao sol já seriam suficientes para o animal atingir o requerimento destes nutrientes.

Existem ainda substâncias imunomoduladoras, ou seja, que não serão absorvidas como os nutrientes, mas que têm capacidade de modificar a resposta do sistema imunológico, a integridade intestinal, a microbiota e/ou processos oxidativos, como os  prebióticos, probióticos e fitoterápicos.

Qual a influência da nutrição sobre a imunidade dos bovinos?

Qualquer nutriente em falta causará um desequilíbrio no organismo do animal como citado anteriormente. Podemos usar neste ponto, a analogia da “Lei dos Mínimos”, exemplificada pela Teoria do Barril de Liebig, que demonstra que a produtividade máxima é limitada pelo nutriente mais limitante.

Se a nutrição inadequada persistir por muito tempo, além de prejuízos produtivos, as deficiências começarão a impactar na saúde animal pois a resposta do sistema imune demanda muita energia do metabolismo obtida através dos nutrientes. Desta forma, é fácil compreender como uma dieta de baixa qualidade ou não balanceada influencia negativamente o equilíbrio de todo mecanismo, demandando uma resposta inflamatória.

Como manter os bovinos saudáveis através da suplementação?

As pastagens são a principal fonte de alimentos para ruminantes no Brasil, em grande parte favorecidas pelo clima tropical predominante no país, que ajuda no desenvolvimento das forrageiras.

Contudo, somente os nutrientes desse alimento não são capazes de atender as exigências dos animais e é necessário lançar mão da suplementação alimentar mesmo quando bem manejadas ou no período de chuvas quando a planta forrageira apresenta maior massa verde, pois normalmente ainda não é suficiente para atender todas as exigências dos animais devido à carência em determinados elementos como alguns minerais.

Dentro da nutrição animal, os minerais cumprem diferentes e essenciais funções no organismo, desempenhando um papel de destaque entre os nutrientes. Deficiências desta categoria causam a presença de anormalidades fisiológicas e/ou estruturais.

Dentre os minerais que devem ser suplementados, o fósforo destaca-se pela importância das funções que desempenha no organismo animal. É sabido que, devido à deficiência deste mineral nas pastagens do Brasil Central, a suplementação via fosfatos na mistura mineral é indispensável.

O fósforo é imprescindível para a formação dos ossos e dentes, atuando também no metabolismo dos nutrientes (carboidratos, proteínas, lipídeos, vitaminas). Outro exemplo de deficiência mineral seria o raquitismo com a falta demasiada de cálcio. Já a deficiência de cloreto de sódio, conduz a distúrbios na saúde e produtividade animal, para animais adultos a carência resulta em apatia, apetite depravado, pelagem áspera, perda de produção e fecundidade e até morte.

Apesar de não haver “receita de bolo” na nutrição animal, a consideração dos tópicos abordados e a compreensão das estratégias nutricionais representam um norte para manter o melhor aproveitamento da dieta consumida, a saúde dos animais e consequentemente maior produtividade. Desta forma, o resultado só pode ser um: pecuária eficiente e lucrativa!

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