A adubação de pastagens é uma tecnologia a tempos cientificamente comprovada, entretanto infelizmente ainda gera muitas dúvidas em relação a sua utilização, e principalmente a sua viabilidade econômica. Acreditamos que o principal motivo é o pouco emprego dessa tecnologia a campo, como também a falta da análise de dados produtivos e econômicos de situações reais de propriedades. O objetivo desse artigo é elucidar resultados produtivos e econômicos ocorridos na safra 19/20 em uma propriedade atendida por nossa empresa na região de Tapira PR.
A propriedade opera o sistema de recria e engorda de machos e fêmeas, recebendo os bezerros e bezerras da propriedade de cria da mesma família, localizada no município de Porto Murtinho MS. Além da tecnologia de adubação de pastagens, a propriedade também utiliza da suplementação estratégica conforme a estação do ano e categoria animal, entre essas o confinamento na época da seca para manter lotações semelhantes entre águas e secas.
Dos 203,56 ha. de pastagens perenes da propriedade, foram corrigidos e fertilizados 177,4 ha. na safra atual 19/20, representando 87 % das áreas de pastagens perenes da propriedade. Dentre as áreas fertilizadas, temos áreas recém reformadas (3º a 1º ano) com capim xaraês, que totalizam 72,42 ha. (35,6%), e 104,98 ha. de brachiaria brizantha marandu, entre 10 a 15 anos de formadas. O restante das áreas de pastagens, que não receberam nenhuma correção e/ou fertilização totalizando 26,16 ha., e são formadas de mombaça, com mais de 15 anos de implantação.
A recomendação de adubação foi proposta no mês de maio de 2019, conforme tabela abaixo:
Após a recomendação feita, iniciou-se a aplicação do calcário entre setembro e outubro de 2019, sendo a primeira aplicação do formulado iniciou-se em novembro, após o restabelecimento das chuvas. A adubação nitrogenada foi realizada na forma de ureia e só iniciou a aplicação entre março e abril de 2020, uma vez que a grande velocidade de rebrote das áreas fertilizadas entre dezembro a fevereiro, impediam a aplicação de nitrogênio, pois fatalmente causariam aumentos na altura de pastejo, reduzindo a qualidade de forragem, e consequentemente desempenho dos animais. É importante ressaltar que essas áreas são adubadas anualmente desde da safra 17/18, e possuem residual de fertilidade, que possibilitaram a uma grande produção no período do verão. As chuvas se concentraram no mês de dezembro, reduzindo significativamente entre janeiro e fevereiro, meses de temperaturas médias altas, reduzindo assim a umidade do solo. Segue abaixo a precipitação ocorrida na safra 19/20 até o momento (mai/20):
Análise indireta da viabilidade da adubação:
Analisamos a viabilidade da adubação sobre dois aspectos, sendo o primeiro considerando todo rebanho e todas as áreas de pastagens presentes na propriedade. Mesmo que existam áreas que não sejam adubadas, essas serão beneficiadas indiretamente, pois a maior produtividade das áreas adubadas, causará uma redução de lotação nas mesmas, e consequentemente maior ganho de peso aos animais que irão pastejá-las, e também produtividade por área, pois a produtividade é o produto entre ganho animal x lotação.
Segue abaixo o estoque pecuário global da propriedade na safra atual:
Considerando o rebanho médio a pasto, ou seja, o rebanho que efetivamente só se alimentou de pasto, temos uma média de 788 cabeças ocorrida até o momento, sendo que nessa análise o investimento em adubação é de R$ 6,17/cab./mês (R$ 58.293 / 788 cab.: R$ 74,04/cab/ano). Esse investimento cobra que cada animal engorde 0,032@/cab/mês, ou ainda 0,032 kg/cab/dia, considerando o valor médio atual (mai/20) de R$ 190,00/@, em um rendimento entre 50%, comprovando novamente a viabilidade da técnica.
Segue abaixo o estoque pecuário a pasto da propriedade na safra atual:
Análise direta da viabilidade da adubação:
A segunda forma de analisarmos a viabilidade da adubação é na forma direta, ou seja, analisando a produtividade das áreas de pastagens adubadas contra seu investimento. Através do software a aplicativo GERENTE DE PASTO conseguimos obter a lotação em unidade animal de cada piquete presente na propriedade, e assim estudar a viabilidade diretamente. Segue abaixo o gráfico que demonstra a lotação ocorrida nas áreas de pastagens entre o período entre jul/19 a maio/20 da safra 19/20, as áreas adubadas estão destacadas em vermelho:
Considerando a lotação média de todas as áreas adubadas, chegamos a uma lotação média de 2,45 UA/ha. ocorridas até o momento (maio/20). Considerando o peso médio de 350 kg de um animal em recria engorda, chegamos a uma lotação de 3,18 cab./ha. nas áreas adubadas. O investimento em adubação nas áreas adubadas foi de R$ 329,00/ha., o que gera R$ 103,45/cab./ano, ou ainda R$ 8,62/cab./mês, um aumento de 65% sobre a análise considerando o rebanho global, ou de 39% sobre a análise o rebanho a pasto. Esse investimento cobra que cada animal engorde 0,045 @/cab/mês, ou ainda 0,045 kg/cab/dia, considerando o valor médio atual (mai/20) de R$ 190,00/@, em um rendimento entre 50%. Podemos ainda analisar o investimento por unidade animal (UA)/ha. chegando a R$ 134,28/UA/ha, ou ainda R$ 11,19/UA./mês. Mesmo com aumento considerável no investimento, o retorno é certo, pois necessitamos que cada unidade animal aumente o desempenho em 0,058 kg/UA/dia, e conforme já debatido anteriormente, esse aumento em desempenho é tecnicamente viável e exequível.
Para fechar o assunto, uma outra possível análise, é compararmos o investimento em adubação contra o valor de arrendamento de pasto na região. Na região da propriedade em questão, os valores médios praticados encontram-se atualmente em torno de R$ 35,00/cab/mês. Diante desse valor podemos até comparar com o investimento em UA, que chegou a R$ 11,19/UA/mês, que estaremos apenas 32% do valor investido em arrendamento.
Para onde estamos caminhando:
Conforme a lotação apresentada abaixo, a propriedade caminha para uma produtividade entre 20 a 22 @/ha., que provém do produto entre a lotação média de 3,71 cab/ha. x 6@ cab/ano.
Concluindo:
Devemos entender a adubação como investimento, pois seus benefícios são contínuos por várias safras, e quando bem conduzidos, chegam a reduzir em médio a longo prazo. Muito importante salientar que de nada adianta aplicar adubo, sem “aplicar” gestão de pastagem. Gestão de pastagem é a primeira tecnologia a ser “aplicada” na propriedade. Não respeitar essa sequência resulta em insucessos que normalmente sepultam a tecnologia.
Equipe Gerente de Pasto
Msc. Josmar Almeida Jr. – Msc. Edmar Pauliqui Peluso – Dr. Bruno Shigueo Iwamoto
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