Boas práticas na alimentação do gado leiteiro

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Boas práticas. O que esse conceito tão em evidência em nossos sistemas de produção agropecuário e industrial tem a ver com a alimentação do gado leiteiro? Tudo!

Uma dieta fabricada com ingredientes de qualidade e seguros é fundamental para garantir a saúde dos animais, maximizar a produção e a rentabilidade da pecuária leiteira. Contudo, o tradicional “bom e barato”, sonho de todo produtor, que em um primeiro momento promete baixar os custos de produção, pode esbarrar em alimentos contaminados e/ou de baixa biodisponibilidade, e o barato pode sair caro.

É importante relembrarmos que a produção de alimentos para toda a população começa na propriedade rural. Quando aplicamos as boas práticas na alimentação dos animais, estamos também cuidando diretamente da alimentação humana. Afinal, o que fornecemos aos animais chega às nossas mesas em forma de queijos, fermentados, leites pasteurizados, doces, etc.

Para que a indústria possa produzir derivados lácteos saudáveis e seguros, é necessário que a mesma receba o leite com o mínimo de contaminação, e isso só é possível com o uso das Boas Práticas Agropecuárias (BPA’s), dando destaque para a área da alimentação animal.

A alimentação adequada, nutritiva e segura do gado leiteiro envolve inúmeras variáveis e, por representar cerca de 60% dos custos totais de produção, este texto visa abordar os principais pontos de atenção, fornecendo orientações sobre a quantidade e qualidade da dieta total, além de dicas sobre suplementação alimentar. Boa leitura!

O que são as boas práticas agropecuárias?

As BPA’s englobam a utilização e a implementação de procedimentos adequados em todas as etapas das atividades agroalimentares, desde a obtenção, produção, processamento, armazenamento, transporte e distribuição de matérias-primas, insumos e produtos acabados.

Assim, devem ser mantidas desde os elos primários da produção a campo até os consumidores, fornecendo garantia de qualidade e de segurança, bem como a agregação de valor ao sistema de produção de alimentos.

Com o intuito de apoiar o produtor e controlar os perigos em toda a cadeia produtiva, a Food and Agriculture Organization (FAO) e o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) publicaram manuais de BPA’s aplicados à pecuária leiteira.

Desta maneira, as diretrizes estão divididas em seis áreas principais: saúde animal, higiene na ordenha, bem-estar animal, meio ambiente, gestão socioeconômica e nutrição (alimentos e água). Listadas abaixo estão as 4 BPA’s que devem ser implementadas nas fazendas e que, segundo a FAO, têm maior impacto dentro da área de nutrição animal:

  • Garantir o fornecimento de alimentos e água provenientes de fontes sustentáveis;
  • Garantir alimentos e água aos animais em quantidade e qualidade adequadas;
  • Controlar as condições de armazenamento dos alimentos;
  • Garantir a rastreabilidade dos alimentos adquiridos pela propriedade.

Como deve ser a alimentação do gado leiteiro?

Acima de tudo, a alimentação do gado leiteiro deve ser segura, balanceada e atender às exigências de mantença, crescimento, reprodução e produção, sendo diferente para cada idade e genética dos animais, como já abordado anteriormente em: Desvendando os Segredos da Nutrição de Vacas Leiteiras.

Assim, é preciso ter em mente o objetivo que se deseja alcançar e traçar o planejamento adequado do manejo alimentar e nutricional do rebanho, contribuindo para a redução de custos desnecessários e favorecendo a lucratividade da atividade.

Uma dieta bem formulada é composta por uma combinação de alimentos volumosos (silagens, feno, capim verde picado, pastagem), essencial para manter em equilíbrio o ambiente ruminal, e alimentos concentrados, ricos em energia e proteínas, além de fontes de minerais e vitaminas.

CANDIDO et al., 2008, citam vários fatores que podem ser considerados ao escolher as matérias-primas a serem utilizadas, tais como preço, disponibilidade, proximidade da fonte de aquisição, volume consumido, características nutricionais e custos com transporte/armazenamento.

Na prática, a decisão pela melhor alimentação do gado leiteiro é realizada, além dos fatores citados acima, a partir da combinação dos requerimentos nutricionais de cada categoria animal com a composição química e preço dos alimentos, utilizando dados de tabelas como o National Research Council (NRC), Agriculture Research Council (ARC) ou Tabela Brasileira de Alimentos.

Pode-se dividir a formulação de dietas basicamente em três etapas:

  1. Estimativa das exigências nutricionais dos animais;
  2. Cálculo dos nutrientes fornecidos pelos alimentos;
  3. Modelagem do problema para a obtenção de uma combinação de alimentos e água (dieta) que possa aperfeiçoar o desempenho animal a um custo mínimo ou lucro máximo.

Importante lembrar que, no momento da escolha dos alimentos, é necessário avaliar o melhor custo-benefício, considerando o valor do nutriente digestível, que corresponde à fração possível de ser digerida pelo animal e que pode ser aproveitada para a produção de energia, manutenção e crescimento dos tecidos. Ou seja, é a diferença entre a quantidade do nutriente ingerida menos a excretada nas fezes.

Quantos quilos de ração uma vaca leiteira tem que comer por dia?

Para estimar o consumo de uma vaca leiteira, são utilizadas equações com diversas variáveis. Em termos gerais, o consumo médio fica entre 2,5 a 4 quilos de matéria seca (MS) por dia para cada 100 quilos de peso vivo, variando conforme raça, genética, produção de leite e estágio reprodutivo. Considerando um animal de 500 kg, por exemplo, o consumo fica entre 12,5 e 20 kg de MS por dia.

gráfico sobre alimentação do gado leiteiro

Figura 01: Fatores que afetam a IMS em vacas em lactação e a importância relativa destes.

Fonte: Roseler (1998) citado por Gonçalves, Lúcio Carlos, Borges, Iran, Ferreira, Pedro Dias Sales em Alimentação de gado de leite- Belo Horizonte: FEPMVZ, 2009. 412

Dietas muito secas ou muito úmidas podem limitar o consumo e, por isso, o teor de umidade da silagem e da mistura total deve ser monitorado semanalmente. Por outro lado, dietas muito úmidas podem fermentar no cocho e o animal diminui a ingestão. O melhor teor de matéria seca da dieta total está entre 50 e 75%.

O número da lactação na vida do animal e o estágio da lactação também afetam fortemente as exigências nutricionais e o consumo de alimentos, culminando em baixa produção de leite, problemas metabólicos ou mudanças no escore corporal.

No começo da lactação (até aproximadamente 60 dias), as vacas têm uma menor capacidade de ingestão de alimentos por interferência do balanço hormonal e da mobilização de gordura corporal, o que caracteriza o balanço energético negativo. Portanto, nesta fase, deve ser disponibilizada uma maior quantidade de concentrado para que o animal possa produzir conforme seu potencial.

Na fase média da lactação (60 a 240 dias), as vacas já recuperaram a capacidade de ingestão de alimentos e parte das reservas corporais.

O final da lactação (240 dias até a secagem) é a melhor época para recuperar a condição corporal das vacas. Deve-se evitar o ganho de peso em excesso, mas deve haver alimento suficiente para repor as reservas corporais perdidas no início da lactação. É o período em que ocorre a secagem do leite, encerrando-se a lactação atual, e o início da preparação para o próximo parto e lactação subsequente.

A queda de consumo observada no período de transição (período de três semanas que antecedem o parto e três semanas após a parição) pode chegar a 25-35%.

Nas duas primeiras lactações da vida de uma vaca, deve-se fornecer alimentos em quantidades superiores àquelas que deveriam estar recebendo em função da produção de leite, pois estes animais continuam em crescimento, com necessidades nutricionais bastante elevadas. Assim, recomenda-se que aos requerimentos de mantença sejam adicionados 20% a mais para novilhas de primeira cria e 10% para vacas de segunda cria.

Vacas que ganham muito peso antes do parto apresentam apetite reduzido, menores produções de leite, distúrbios metabólicos como cetose, fígado gorduroso e deslocamento do abomaso, além de baixa resistência aos agentes de doenças.

Fatores ambientais como temperatura, umidade, radiação solar e vento também interferem no consumo. Dependendo da raça e do nível de produção das vacas leiteiras, a zona de conforto térmico situa-se entre 10 a 20°C, na qual a temperatura do corpo mantém-se constante, com o mínimo de esforço do sistema termorregulador.

O uso de métodos para controlar o estresse térmico, como o sombreamento natural e artificial, dieta com menor incremento calórico, e uso de sistemas como ventilador, aspersor e painel evaporativo, podem se mostrar eficientes para animais que estão submetidos ao calor.

As interações de dominância entre os animais também devem ser controladas para assegurar o correto consumo de matéria seca. Recomenda-se, por exemplo, separar os animais por lotes, da forma mais uniforme possível, onde as vacas primíparas devem ser alimentadas separadamente das vacas mais velhas a fim de evitar a competição pelo alimento e por espaço de cocho.

Outro conceito bastante disseminado no meio técnico e de produtores é o de que animal que não ingere água tem menor ingestão de MS. Portanto, é obrigatório o fornecimento livre de água limpa, de boa qualidade e em grande quantidade próximo aos cochos. Normalmente, as vacas consomem 8,5 litros de água para cada litro de leite produzido, uma grande quantidade, uma vez que o leite é composto de 87 a 88% dessa substância.

Qual a melhor ração para aumentar a produção do gado leiteiro?

Depende! Não existe receita de bolo para esse questionamento. Como a atividade leiteira nacional é bastante heterogênea, a melhor ração é aquela que atende às características estruturais, agrícolas, de aquisição e que atenderá aos objetivos produtivos da propriedade.

Com um rebanho também heterogêneo, a resposta à dieta deve ser mensurada diariamente através de indicadores produtivos, reprodutivos e de saúde do rebanho. Alguns exemplos de indicadores que devem ser acompanhados são: conversão alimentar (kg de MS/litro de leite), eficiência leiteira (EL = kg de produção de leite/kg de consumo de MS), taxa de concepção ((animais com prenhez confirmada / animais servidos – inseminados, cobertos por monta natural controlada, etc.) x 100%), casos de acidose e timpanismo, retenção de placenta, qualidade dos cascos e pelagem dos animais.

O Brasil é um país de dimensões continentais e, por isso, é possível encontrar diferentes composições de dietas. Sendo assim, não temos uma fórmula padrão a ser utilizada, apesar da ração conhecida por ser composta pelos macro ingredientes milho e soja (alimentos padrão para energia e proteína, respectivamente) ser considerada referência de qualidade por boa parte dos produtores.

Por outro lado, muitos coprodutos gerados pelas agroindústrias podem ser utilizados com o intuito de diminuir a dependência por grãos, diminuir custos, além de serem uma alternativa para contribuir com a produção animal sustentável. Desta forma, os ruminantes desempenham papel importante na bioeconomia, convertendo esses alimentos não comestíveis por humanos em produtos de alto valor alimentar, como carne e leite.

Vários produtos têm sido pesquisados e seu uso adaptado com sucesso para a alimentação animal, a exemplo da polpa cítrica, leveduras, grãos de destilaria e casquinha de soja. Conhecer a melhor forma e nível seguro da quantidade de coproduto a ser usado na dieta é essencial para indicar o seu uso.

Como suplementar o gado de leite?

A suplementação mineral e vitamínica na alimentação do gado leiteiro é essencial para evitar problemas de saúde, melhorar a produção, reprodução e fortalecer o sistema imunológico.

Para vacas em lactação e animais que são mantidos em confinamento, é mais seguro e garantido incluir o suplemento no concentrado ou na dieta completa. Para animais mantidos a pasto, o método mais prático é deixar a mistura disponível em cocho coberto, à vontade.

Quais os impactos de uma alimentação inadequada para o gado leiteiro?

A alimentação para o gado leiteiro com o uso de alimentos de baixa qualidade, estragados ou adquiridos de fabricantes/produtores não idôneos traz graves consequências aos animais, impactando negativamente na saúde e produtividade do rebanho e resultando na queda da rentabilidade do negócio.

Outra consequência é o risco à saúde dos humanos que se alimentam dos produtos lácteos devido à contaminação em cadeia.

Assim, é preciso investir em cuidados durante o planejamento, elaboração, armazenamento e uso dos alimentos:

tabela sobre alimentação do gado leiteiro

Além das BPA’s, existem regulamentações para melhorar a qualidade do leite. Porém, o problema ainda persiste, principalmente devido a muitas ações propostas não alcançarem os produtores.

Os cuidados citados anteriormente são para impedir o desenvolvimento de fungos produtores de micotoxinas que afetam a saúde dos animais e passam para o leite, causando danos aos consumidores. Dentre as toxinas encontradas nos alimentos utilizados para o rebanho, a aflatoxina é uma das mais comuns.

Esta micotoxina pode estar presente no milho, amendoim, farelo de trigo e resíduos de cervejaria, quando mantidos em condições de armazenamento inadequadas. A aflatoxina pode causar males à saúde das pessoas e, além disso, diminui a produção de leite e reduz a defesa do animal, que adoece mais facilmente.

Conclusão

A adoção de boas práticas na alimentação do gado leiteiro é essencial para a atividade, e investir no cumprimento das diretrizes não só melhora a eficiência alimentar e reduz custos a longo prazo, mas também contribui para a sustentabilidade e o sucesso da atividade.

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