Vamos falar além de importação de carne por parte da União Europeia. Recentemente, seis redes europeias de supermercados anunciaram que não irão mais vender carnes bovinas de origem brasileira ou de produtos ligados a determinadas empresas em razão de denúncias de comercialização de gado criado em áreas oriundas de desmatamento ilegal.
O governo brasileiro prontamente se manifestou, endurecendo fiscalizações e punições para práticas anti ambientalistas. Mas em termos práticos, qual é o real impacto para o mercado de exportação de carne brasileira?
Produção de carne bovina no Brasil
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil apresenta hoje um rebanho de 218 milhões de cabeças de gado. Isso posiciona o país como aquele que possui o maior rebanho mundial de bovinos.
As estimativas para a produção de carne brasileira para 2021, segundo o departamento americano de agricultura (USDA), são de 9,5 milhões de toneladas. Em termos percentuais, isso representa 16,8% da produção mundial de carne, onde o líder deste ranking são os Estados Unidos (20%), seguido pelo Brasil e pela União Europeia (12,8%).
Volume exportado de carne
O Brasil ocupa o primeiro lugar do ranking mundial como o maior país exportador de carne bovina. Para o ano de 2021, é esperada uma participação no mercado global de 22,3%. Enquanto que o segundo maior exportador mundial, os Estados Unidos, devem encerrar o ano com participação de 14,4%
Segundo dados da Secretaria de Comercio Exterior (Secex), no primeiro semestre de 2021 foram exportadas 735,8 mil toneladas de carne in natura, sendo os principais destinos China e Hong Kong, que juntos, embarcaram 60,4% do total para o período, seguido por Egito (51,4 mil toneladas) e Chile (33,9 mil toneladas).
O Mercado Europeu
O Mercosul e o Brasil estão entre os principais responsáveis pelo abastecimento de carne bovina do mercado europeu. Só no ano de 2018, as importações do bloco europeu foram de 40,8% oriundas do Mercosul, sendo o Brasil responsável por 30,4% desse total.
A exportação de carne brasileira para a UE é hoje regulada pela Cota Hilton, que estabelece um volume limitado de exportações de cortes bovinos. O permitido hoje para o Brasil é de 10 mil toneladas para carne in natura e 53 mil toneladas para produtos congelados. Já para o acordo ainda não concluído entre a UE e Mercosul, a cota é de 99 mil toneladas, das quais 55% são de carnes in natura e 45% de carnes congeladas. Essa porcentagem para o Mercosul representa hoje apenas 1,2% do consumo total de carne da UE (em torno de 8 milhões de toneladas por ano).
O bloco europeu é bastante rígido nas regras que regem as importações de carnes. Para que contratos de importação sejam fechados, três aspectos são levados em consideração:
- Panorama geral da saúde animal do país exportador;
- Adoção de um plano de resíduos aprovados pela UE;
- Aprovação de unidades de processamento de carne e listagem oficiais destas pelos órgãos europeus.
A influência da UE na importação de carnes
A UE tem um papel regulador muito forte no que diz respeito a questões ambientais, seja internamente aos países que compõem o grupo, como externamente, sendo o bloco referência na proliferação global de regras e normas.
Toda essa influência começou também a preocupar os consumidores em relação ao bem-estar animal e a sustentabilidade dos sistemas de produção. Preocupação essa que influencia hoje a aceitação de carne bovina proveniente da pecuária tropical.
O que vem pela frente em 2022
O Conselho da União Europeia terá Emmanuel Macron como novo presidente, a partir de janeiro de 2022. Uma de suas principais pautas de governo já anunciadas, será a implementação de uma forma de barrar a importação de produtos como café, carne e grãos, que têm origem em áreas de desmatamento.
O governo brasileiro vai precisar ser eficiente em monitorar e cumprir a meta assumida na COP26 de zerar o desmatamento ilegal até 2028. Além disso, será necessário uma maior transparência nos dados daquilo que é desmatamento legal e ilegal, bem como um grande foco e ampliação no Plano Setorial de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (Plano ABC+).
Artigo escrito por José Pizol | Analista de Marketing Digital da Mosaic Fertilizantes
Referências bibliográficas
Farmnews – Perspectiva de venda dos maiores exportadores de carne bovina. Disponível em: <https://www.farmnews.com.br/mercado/perspectiva-de-venda-dos-maiores-exportadores-de-carne-bovina/#:~:text=Pois%20%C3%A9%2C%20mas%20apesar%20da,participa%C3%A7%C3%A3o%20de%2014%2C4%25.>
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Rebanho de Bovinos (Bois e Vacas). Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/explica/producao-agropecuaria/bovinos/br>
O Brasil no Agro Global : reflexões sobre a inserção do agronegócio brasileiro nas principais macrorregiões do planeta/ editado por Leandro Gilio e Marcos Sawaya Jank. – São Paulo : Insper, 2021.384 p. Disponível em: < https://www.insper.edu.br/wp-content/uploads/2021/11/Livro_O_Brasil_no_Agro_completo.pdf>
Portal do Agronegócio – Desempenho das exportações brasileiras de carne bovina in natura no primeiro semestre de 2021. Disponível em: <https://www.portaldoagronegocio.com.br/pecuaria/bovinos-de-corte/artigos/desempenho-das-exportacoes-brasileiras-de-carne-bovina-in-natura-no-primeiro-semestre-de-2021#:~:text=J%C3%A1%20no%20primeiro%20semestre%20de,meses%20de%202020%20e%202021.>
United States Department of Agriculture (USDA) – Livestock and Products Annual, 2021. Disponível em: <https://usdabrazil.org.br/wp-content/uploads/2021/11/Livestock-and-Products-Annual_Brasilia_Brazil_08-15-2021.pdf>
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