Comportamento Animal: o que é e como analisar em vacas leiteiras

6 min de leitura

Qual a importância de entender o comportamento animal? Você sabia que compreender o comportamento dos animais de produção, identificar e resolver problemas comportamentais também está relacionado com a produtividade e rentabilidade da fazenda? Continue a leitura e saiba mais!

Muitos produtores imaginam que o sucesso da sua produção de leite está ligado somente ao padrão genético do seu rebanho e à nutrição balanceada. Porém, existem alguns aspectos ligados ao bem–estar e comportamento animais que podem influenciar diretamente na produção de leite/animal/dia. 

O mais importante de tudo isso é que os animais nos dão sinais de que as coisas não vão bem e que é preciso tomar alguma providência sobre. Mas você sabe identificar quais são esses sinais?

Nesse artigo, iremos te ajudar a compreender melhor o comportamento de vacas leiteiras, garantindo o bem-estar dos seus animais.

Leia também: Gado de leite: Conheça as principais características produtivas

Como analisar comportamento animal em vacas leiteiras?

Para termos sucesso na atividade leiteira é preciso “ouvir o que as vacas estão nos dizendo”. E elas nos dizem muitas coisas que podem interferir no seu bem-estar, consumo de alimentos, saúde e desempenho produtivo. É através dos sinais comportamentais que as vacas nos dão, que podemos corrigir falhas no manejo do rebanho. 

Quando observamos nossos animais de perto, fica fácil identificá-los.

A boa gestão do ambiente em que os animais vivem, comida e água de qualidade, espaço para descanso, manejo da área de alimentação com espaço de cocho suficiente, e uma lotação adequada influenciam a rentabilidade da fazenda.

Formular dietas para vacas leiteiras é a tarefa mais fácil dentro do sistema de produção. Entretanto, na grande maioria das vezes, o insucesso da produção de leite não está atrelado a erros de formulação como a grande maioria dos pecuaristas pensam, mas, sim, em erros de manejo que podem ser identificados através do comportamento animal.

Pensando nisso, vale a pena prestar muita atenção em alguns pontos relacionados ao comportamento animal e tentar entender o porquê deles estarem acontecendo.

1. Suas vacas estão selecionando alimento no cocho? 

O primeiro ponto a se atentar em relação ao comportamento animal é em relação à seleção de alimentos. Se os animais estão fazendo muita seleção no cocho, é sinal de que: ou a mistura não está sendo bem-feita, ou o tamanho da fibra fisicamente efetiva não está adequada e precisa ser reavaliada. 

O baixo consumo de fibra fisicamente efetiva pode levar a um quadro de acidose ruminal, queda na gordura e produção de leite. 

Com a seleção de alimentos no cocho, teremos também alta variação na consistência das fezes das vacas em um mesmo lote, indo desde fezes muito secas a muito moles. 

Fezes de vacas saudáveis e produtivas são fezes que formam uma espécie de “bolo” sem aparência dura nem mole. Fezes muito mole indicam baixo consumo de fibra fisicamente efetiva, já fezes muito duras indicam consumo em excesso de fibra.

2. Suas vacas estão ruminando?

A ruminação é outro comportamento alterado quando temos problemas de seleção de alimentos no cocho. 

A ruminação é o ato de regurgitar o bolo alimentar e remastigar para reduzir o tamanho da partícula. Isso permite o melhor aproveitamento dos nutrientes da dieta e a passagem dos alimentos do rúmen para intestino. 

Além disso, contribui para a produção de saliva, a qual é essencial para tamponar o pH do rúmen, reduzir riscos de acidose, e ajudar no aumento do consumo de matéria seca.

Conheça algumas condições que causam redução no tempo de ruminação dos bovinos:

  • Estresse por falta de bem-estar;
  • Alta lotação do lote;
  • Acesso restrito a bebedouros;
  • Camas mal dimensionadas;
  • Doenças;
  • Atividades durante o cio;
  • Falta de fibra fisicamente efetiva na dieta;
  • Animais em condição de pastejo sem disponibilidade de água e sombra.

Vacas passam cerca de 8 horas/dia ruminando, reduções nesse tempo causam queda no consumo de matéria seca e queda na produção de leite.

3. Como está o manejo e espaço de cocho?

O correto dimensionamento dos cochos de alimentação é extremamente importante. Cochos com espaço reduzido ou mal dimensionados aumentam a frequência com que vacas dominadas são expulsas pelos animais dominantes na hora da alimentação. 

Esse tipo de comportamento animal prejudica o consumo de alimento e aumenta o comportamento agressivo no rebanho. A recomendação para animais em lactação é de 0,6m/vaca de espaço de cocho. 

Outro ponto importante, principalmente para os sistemas free Stall e Compost Barn, é a leitura do escore de cocho. Esse procedimento é relativamente simples e importante para avaliar o consumo diário dos animais e fazer ajustes na dieta. 

Além disso, fornece informações sobre o comportamento do animal, como mudanças no padrão de consumo do rebanho causados por transtornos clínicos do sistema digestório, como, por exemplo, a acidose ruminal. 

A literatura indica que as sobras de cocho devem ficar em torno de 5% de todo o alimento que foi fornecido ao rebanho. Valores inferiores indicam falta de alimento, ou seja, não estamos dando a oportunidade dos animais expressarem todo seu potencial produtivo.  Valores acima indicam desperdício de alimento. Em ambas as situações, é necessário fazer ajustes no volume de alimento que está sendo fornecido.

4. Seus animais têm disponibilidade de água limpa e fresca?

Pequeno rebanho bebendo água em cocho

Cerca de 87% da composição do leite que as vacas produzem é água e esse é O NUTRIENTE MAIS IMPORTANTE na alimentação de rebanhos leiteiros. A água tem função de nutrir os tecidos celulares e compensar as perdas ocorridas pelo leite, fezes, urina, saliva, evaporação (suor e respiração) e também para manter a homeotermia, regulando a temperatura do corpo e dos órgão internos. Estudos demonstram que o consumo de água por vaca diariamente varia de 80 a 190 litros, dependendo da idade, período de gestação e produção de leite.

Por esses motivos, a velha frase “você deve olhar para o cocho de água de suas vacas e ter coragem de beber a mesma água que elas bebem”, é real. Vacas que reduzem a ingestão de água por falta de limpeza nos cochos tendem a reduzir o consumo de alimento, redução na taxa de concepção e sistema imunológico baixo. 

Descubra: Influência da nutrição na composição do leite

5. Os animais estão em conforto térmico?

Estresse calórico ocorre quando o animal não consegue dissipar calor para o ambiente. Vacas leiteiras possuem uma faixa ótima de temperatura, para Bos taurus (raças europeias), essa temperatura varia de 5 a 200C. Já para Bos indicus (raças zebuinas), a faixa de temperatura considerada ótima varia de 10 a 270C.

Acima dessa condição de temperatura e conforme a umidade relativa do ar, as vacas leiteiras começam a sofrer por estresse calórico. O comportamento animal nesse caso é o aumento da frequência respiratória, já que as vacas permanecem maior parte do tempo em pé e aglomeradas próximo a cochos de água e tendem a babar, perdendo tamponamento natural promovido pela saliva no rúmen.

Para amenizarmos essa condição, orientamos que os produtores disponibilizem água fresca e limpa, sombra. Já em sistemas confinados, ventilação e aspersão na linha de cocho e sala de espera para ordenha são fundamentais.

6. Como estão os cascos de suas vacas?

Se o local de descanso dos animais não possui as condições necessárias e não fornece conforto ao deitar-se, teremos um efeito negativo sobre a saúde dos cascos, fazendo com que as vacas permaneçam a maior parte do tempo em pé. 

Vacas que passam muito tempo em pé tendem a reduzir a produção de leite, apresentar problemas de cascos e redução no consumo de alimento. E a solução desse problema está em fornecer um ambiente adequado para seu descanso, livre de pedras, lama e buracos. 

Lembre-se: vacas que não conseguem andar nem descansar adequadamente tendem a reduzir a produção de leite. O pesquisador Grant, em 2007, observou uma relação direta entre o tempo de descanso e a produção de leite. Nesse estudo houve um acréscimo de 1,5 kg de leite para cada hora a mais de descanso dos animais.

O que abordamos neste texto nos dá uma boa ideia de como o comportamento animal é afetado pelas condições do ambiente em que esses animais se encontram e que muitas vezes, ajustes simples no manejo do rebanho podem trazer grandes benefícios produtivos.

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Vaca em gramado

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Artigo escrito por Eliana Geremia | Especialista em Desenvolvimento de Mercado em Pecuária da Mosaic FertilizantesPara ter acesso às fontes consultadas, clique aqui.

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