Gessagem e calagem em pastagens: estratégias para correção do solo e aumento da produtividade forrageira

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A produtividade das pastagens está diretamente relacionada à qualidade do solo. Em especial, os solos tropicais — como os predominantes no Brasil — apresentam, de forma natural, baixa fertilidade e elevada acidez. Esses fatores limitam o desenvolvimento das plantas forrageiras e, por consequência, comprometem a eficiência dos sistemas de produção animal.

Para enfrentar esse desafio, a correção do solo por meio da calagem e da gessagem torna-se uma ferramenta indispensável para pecuaristas que buscam ganhos sustentáveis na produtividade e na qualidade das pastagens.

Neste artigo, abordaremos os conceitos, objetivos, critérios de recomendação, formas de aplicação e os impactos da calagem e da gessagem em pastagens, com base em informações técnicas atualizadas e experiências práticas no campo.

O que é calagem?

A calagem é a prática agrícola de aplicação de corretivos para acidez do solo, geralmente compostos por carbonatos de cálcio (CaCO₃) e magnésio (MgCO₃), como o calcário dolomítico ou calcítico.

Seus principais objetivos são:

  • Neutralizar a acidez do solo, elevando o pH;
  • Reduzir a toxicidade do alumínio (Al³⁺);
  • Fornecer cálcio (Ca²⁺) e magnésio (Mg²⁺);
  • Aumentar a saturação por bases (V%).

O que é gessagem?

A gessagem agrícola consiste na aplicação de sulfato de cálcio (CaSO₄·2H₂O), conhecido como gesso agrícola. Sua principal função é corrigir problemas na camada de 20 a 40 cm do solo, onde a calagem não é eficaz. Dessa forma, reduz-se a toxicidade do alumínio em camadas mais profundas, melhora-se a disponibilidade de cálcio e enxofre, e estimula-se o crescimento radicular profundo das plantas.

Em resumo, enquanto a calagem atua na camada superficial (0–20 cm), a gessagem complementa sua ação em profundidade.

É importante destacar que gesso e calcário são produtos distintos, com funções diferentes. Um não substitui o outro, conforme demonstrado na tabela abaixo:

CalcárioGesso agrícola
Altera o pH do solo e aumenta a CTC efetivaNão altera o pH do solo
Fornece Ca e MgFornece Ca e S
Atua nas primeiras camadas do solo (0–20 cm)Atua em camadas mais profundas (20–40 cm)
Baixa solubilidade100 vezes mais solúvel que o calcário

Por que corrigir a acidez do solo em pastagens?

A acidez do solo afeta diretamente a disponibilidade de nutrientes essenciais e o desenvolvimento das raízes. Em solos ácidos, o alumínio (Al³⁺) torna-se solúvel e tóxico, limitando o crescimento radicular à superfície e reduzindo a absorção de água e nutrientes.

Além disso, há deficiência de nutrientes básicos como cálcio, magnésio e fósforo — este último fundamental para o estabelecimento das plantas e para o perfilhamento das forrageiras.

Esses fatores, em conjunto, resultam em menor produtividade de forragem, baixa capacidade de suporte e menor eficiência na utilização de adubos. Portanto, a correção da acidez é uma base essencial para uma adubação eficiente e para a sustentabilidade das pastagens.

Efeitos da calagem nas pastagens

Entre os principais efeitos da calagem, destacam-se:

  • Aumento do pH e da saturação por bases: ao aplicar calcário, o pH do solo se eleva, reduzindo a atividade do alumínio tóxico e melhorando a disponibilidade de nutrientes;
  • Fornecimento de Ca e Mg: gramíneas tropicais como braquiárias e panicuns necessitam desses elementos para o desenvolvimento vegetativo, o que resulta em maior produção de biomassa e perfilhamento;
  • Melhora na eficiência da adubação fosfatada: com o pH mais elevado, o fósforo deixa de se ligar ao alumínio e ferro, tornando-se mais disponível para as plantas.

Efeitos da gessagem nas pastagens

O gesso agrícola, por ser altamente solúvel, transporta cálcio para as camadas mais profundas do solo. Isso permite que as raízes se desenvolvam melhor, mesmo em condições de acidez moderada ou seca, aumentando a resistência das plantas à estiagem.

Outros benefícios incluem:

  • Redução do alumínio tóxico na subsuperfície: favorece a neutralização do alumínio em profundidade, criando um ambiente mais propício ao desenvolvimento radicular;
  • Fornecimento de enxofre (S): nutriente essencial para a síntese de aminoácidos e formação de proteínas nas forrageiras. Muitas vezes negligenciado, o enxofre é tão importante quanto o nitrogênio para o bom desempenho da pastagem.

Diagnóstico e recomendação de calagem

A recomendação de calagem deve ser baseada na análise química do solo (0–20 cm), considerando:

  • pH em CaCl₂;
  • Saturação por bases (V%);
  • Teores de Ca, Mg e Al;
  • Capacidade de troca catiônica (CTC a pH 7).

A dose de calcário é determinada pela fórmula:

NC = (V2 – V1) × CTC / 100​

Onde:

  • NC = necessidade de calagem (t/ha);
  • V1 = saturação atual (%);
  • V2 = saturação desejada (geralmente 60% para pastagens);
  • CTC = capacidade de troca catiônica.

É fundamental verificar em qual grupo se enquadra a gramínea que será implantada ou manejada, e realizar o cálculo conforme as recomendações do manual de adubação e calagem da sua região.

Abaixo, reunimos informações dos manuais do Cerrado, Minas Gerais e do Boletim 100 sobre os valores de saturação de bases recomendados. Reforçamos que o pecuarista deve sempre consultar um técnico especializado para auxiliar na recomendação.

tabela

Aplicação e manejo da calagem

A dose final de calcário deve ser ajustada conforme o PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total) do corretivo disponível. É importante lembrar que a ação do calcário não é imediata. Por isso, recomenda-se que sua aplicação seja feita com antecedência mínima de três meses.

A aplicação do calcário é realizada a lanço, utilizando implementos apropriados. Em áreas destinadas à reforma de pastagens, é essencial realizar o manejo de incorporação com grade aradora ou niveladora, garantindo maior eficiência na correção do solo.

Por outro lado, em áreas de pastagem já estabelecidas, onde se busca apenas a correção da acidez sem reforma, o calcário também deve ser aplicado a lanço, porém sem incorporação, a fim de evitar danos ao sistema radicular das plantas. Nesses casos, recomenda-se rebaixar o pasto antes da aplicação. Considerando o tempo necessário para que o produto reaja no solo e traga benefícios à cultura, o ideal é que a aplicação ocorra no final do período seco ou no início das chuvas.

Diagnóstico e recomendação de gessagem

A gessagem é indicada em situações específicas, como:

  • Saturação por alumínio elevada na subsuperfície (20–40 cm);
  • Teor de cálcio inferior a 0,5 cmolc/dm³ nessa camada;
  • Teor de alumínio superior a 0,5 cmolc/dm³;
  • Saturação por alumínio (m%) acima de 20%;
  • Presença de restrições ao crescimento radicular;
  • Histórico de seca prolongada;
  • Sistema radicular superficial, mesmo após a calagem.

As recomendações de gesso para áreas de pastagem são baseadas, principalmente, no teor de argila do solo, conforme a tabela abaixo:

Tipo de SoloCulturas Anuais (kg/ha)Culturas Perenes (kg/ha)
Arenoso (<15% argila)7001050
Médio (16–35% argila)12001800
Argiloso (36–60% argila)22003300
Muito argiloso (>60% argila)32004800

Fonte: Adaptado de Souza et al. (2021)

Outra forma de calcular a dose de gesso é por meio da fórmula:

Dose de gesso (kg/ha) = 50 × teor de argila (%)

Além disso, é possível utilizar os valores de CTC e saturação por bases (V%) na camada de 20 a 40 cm para definir a dose, conforme a tabela:

CTC (mmolc/dm³)V (%)Gesso (t/ha)
<30<102,0
10–201,5
20–351,0
30–60<103,0
10–202,0
20–351,5
60–100<103,5
10–203,0
20–352,5

Fonte: Adaptado de Vitti & Priori (2009)

A aplicação do gesso agrícola deve ser feita a lanço em área total, sem incorporação. Embora possa ser aplicado em qualquer época do ano, o ideal é que seja realizado antes do início da estação chuvosa, facilitando sua percolação para camadas mais profundas do solo.

Impactos na produtividade

Embora representem um investimento inicial, a calagem e a gessagem proporcionam retornos consistentes ao longo dos anos, especialmente quando associadas a boas práticas de manejo da pastagem. Além disso, essas técnicas aumentam a eficiência da adubação e prolongam a vida útil das áreas de pastagem, reduzindo os custos com reformas.

É fundamental lembrar que o manejo de correção do solo — seja em reformas ou manutenções — deve estar integrado à reposição de nutrientes via fertilizantes, para evitar que o solo volte a apresentar queda na produtividade.

Em um cenário de intensificação da pecuária e busca por maior eficiência, o manejo adequado do solo torna-se uma prioridade estratégica. Investir na saúde do solo é investir na base do sistema produtivo. Com calagem, gessagem e adubação bem conduzidas, o pecuarista dispõe de ferramentas poderosas para aumentar a produção de forragem, melhorar o desempenho animal e reduzir custos a longo prazo.

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