Ureia na alimentação animal: quais são os benefícios para ruminantes

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A inclusão de ureia na alimentação animal, especialmente de ruminantes, como bovinos, é uma prática consolidada que merece atenção devido ao risco de intoxicação. 

Esse composto, com suas vantagens nutricionais, desempenha um papel significativo na suplementação durante períodos desafiadores, como a estação seca.

Dessa forma, compreender o potencial desse elemento na suplementação alimentar é fundamental para otimizar a saúde e o desempenho dos rebanhos. 

Neste artigo, exploraremos os benefícios e precauções do uso da ureia, fornecendo insights valiosos para aqueles que buscam aprimorar suas práticas de manejo.

Usos da ureia na alimentação animal 

A ureia é um composto orgânico sólido, quimicamente classificado como amida e faz parte do grupo dos compostos nitrogenados não protéicos (NNP).

Sua utilização é especialmente recomendada para animais ruminantes, ou seja, aqueles que possuem o rúmen, uma câmara do sistema digestivo responsável pela fermentação e degradação de materiais fibrosos, encontrado principalmente em animais como bovinos, ovinos e caprinos. 

Esse grupo consegue transformar o nitrogênio proveniente desse composto em proteína de alto valor nutritivo, graças à ação dos microrganismos presentes em seu sistema digestivo.

Vantagens da ureia para gados 

Em condições ideais, o fornecimento de 100 gramas de ureia na dieta de ruminantes resulta na produção de cerca de 260 gramas de proteína bruta de origem microbiana. Isto ocorre devido à alta percentagem de nitrogênio na composição da ureia.

Portanto, a inclusão de ureia na alimentação bovina configura-se como:

  • Alto teor de proteína;
  • Maior rentabilidade; 
  • Preservação de insumos empregados na alimentação humana e de monogástricos.

Quais são os tipos de nutrição com ureia para animais 

É importante destacar que animais com rúmen funcional podem ingerir ureia, enquanto bezerros lactentes e animais monogástricos não se beneficiam dessa prática. 

Neste contexto, confira a seguir os tipos de nutrição com ureia, focando nos animais que podem aproveitar seus benefícios.

Ureia + Cana-de-açúcar

A utilização da cana-de-açúcar com ureia tem sido preconizada como tecnologia simples e aplicável. Entretanto, é importante que se compreenda os conceitos nutricionais para utilização desses ingredientes.

Neste regime alimentar específico, a ureia, que constitui uma fonte de NNP completamente degradável no compartimento ruminal, complementa uma dieta com baixa concentração de nitrogênio, escassez de lipídios e minerais, apresentando um índice de FDN de aproximadamente 50% e uma proporção elevada de carboidratos não fibrosos (CNF) altamente digeríveis no compartimento ruminal.

A complementação da cana com uma fonte de NNP, como a ureia, mantém as características de uma dieta de baixo custo e possibilita a melhora acentuada nos teores de proteína dessa gramínea. 

Ureia no Sal Mineral

Segundo a Embrapa Gado de Corte, durante o período de estiagem, o teor de proteína da pastagem diminui, havendo necessidade de suplementação para que os animais não percam peso.

Além disso, o uso da mistura sal mineral com ureia é uma forma econômica de se garantir isso, desde que respeitadas as proporções recomendadas. 

Para isso, a ureia deve ser misturada ao sal mineral em quantidades crescentes nos cochos para alimentação, visando facilitar a adaptação da flora do rúmen.

A finalidade da suplementação com este composto é garantir a sobrevivência das bactérias celulolíticas do rúmen fornecendo energia para o gado.

Uréia + Melaço

Devido à baixa palatabilidade e potencial toxicidade da ureia, oferecê-la isoladamente aos animais é um desafio.

No entanto, a sua combinação com o melaço surge como uma alternativa eficaz para superar essa questão, uma vez que os animais o aceitam prontamente.

O melaço, subproduto da cultura de cana, apresenta um alto valor energético na nutrição animal. Dessa forma, essa sinergia deve ser considerada pelos pecuaristas, já que não só aumenta a ingestão de ureia, mas também proporciona ganhos energéticos significativos.

Ureia+ Palma Forrageira

A palma forrageira é uma escolha natural para a região semiárida brasileira, graças à sua adaptabilidade. Apesar de ser altamente digerível, seus teores de Proteína Bruta (PB), Fibra em Detergente Neutro (FDN) e Fibra em Detergente Ácido (FDA) são relativamente baixos.

Sua alta degradabilidade no rúmen se destaca por maximizar a fermentabilidade ruminal, colaborando, assim, com o aumento da síntese de proteína microbiana e da produção de ácidos graxos.

Portanto, uma dieta que reúne ureia e palma forrageira, possibilita aos animais um volumoso de alta digestibilidade que proporciona um aumento na produção de proteína microbiana e uma excelente fonte de NNP que será substrato para a produção desta proteína. 

Cuidados essenciais na utilização de ureia em ruminantes 

Ao fornecer ureia para bovinos, uma série de benefícios valiosos podem ser alcançados. Entretanto, para colher resultados positivos, a atenção meticulosa aos detalhes é indispensável. 

Por isso, compreender os cuidados com a utilização da ureia, incluindo aspectos como fornecimento diário, adaptação gradual e armazenamento, é de extrema importância. Amplie seus conhecimentos sobre o assunto a seguir:

Intoxicação dos animais

A ingestão de uma dieta com elevado teor de ureia e baixa quantidade de carboidratos fermentáveis pode acarretar casos de intoxicação por amônia. 

Esse quadro se desencadeia quando o acúmulo de amônia no rúmen provoca um aumento no pH, resultando na absorção excessiva que excede a capacidade de processamento hepático.

Adaptação gradual

É fundamental promover um período de adaptação que inclui o aumento gradual do teor de ureia na dieta. Isso permite o desenvolvimento adequado da microbiota ruminal, que se torna capaz de utilizar eficientemente a amônia liberada durante o processo de degradação.

Mistura homogênea

É crucial assegurar que a ureia seja oferecida em uma mistura completamente homogênea, garantindo sua total dissolução. Dessa forma, evita-se que os animais realizem um consumo seletivo devido à sua impalatabilidade.

Fornecimento diário 

A oferta da ureia deve ser fracionada ao longo do dia e quanto maior a quantidade incluída na dieta, mais parcelado deve ser o seu fornecimento, evitando as altas concentrações de amônia. 

Armazenamento correto 

A ureia possui a característica de ser higroscópica, ou seja, ela tem a capacidade de absorver água com facilidade. Por isso, é fundamental armazená-la em um local fechado e livre de umidade.

Também é importante ressaltar que a utilização de ureia na alimentação de animais deve ser feita com cautela e sob orientação de um profissional especializado em nutrição animal, levando em consideração as necessidades específicas de cada espécie e fase de produção.

Quais os sintomas da intoxicação animal por ureia? 

  • Tremores musculares e da pele;
  • Enrijecimento dos membros anteriores; 
  • Prostração; 
  • Apatia; 
  • Micção e defecação frequentes;
  • Respiração acelerada; 
  • Taquicardia (100-160 bpm); 
  • Parada cardíaca.

Como tratar intoxicação por uréia em bovinos?

  • Sonda oroesofágica, para aliviar a compressão de gases;
  • Água gelada em grandes quantidades (20-40 L/animal); 
  • Uso de ácidos fracos; e
  • Esvaziamento do rúmen, via abertura cirúrgica na fossa paralombar.

Atenção: é de extrema importância que esse procedimento seja feito por um profissional capacitado.

Outras dúvidas sobre a uréia 

Confira abaixo outras dúvidas importantes sobre o assunto. 

Como usar ureia na alimentação animal?

A forma adequada de oferecer ureia aos animais é diluída na dieta. Ou seja, com o composto, os animais devem consumir outros ingredientes, especialmente carboidratos, para evitar intoxicação.

Quais animais podem comer ureia?

A ureia é adequada somente para animais com rúmen funcional, não sendo recomendada para jovens em aleitamento (bezerros lactentes) ou animais monogástricos.

 O que é ureia na alimentação animal?

A ureia na alimentação animal atua como uma fonte de nitrogênio não proteico (NNP), essencial para a produção de proteína microbiana de alto valor nutritivo. Buscando mais eficiência para o seu rebanho? Conheça o MPasto e mantenha-se informado com os conteúdos da Nutrimosaic.

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