Compensa adubar solos da pastagem?

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Esta pergunta tem sido formulada há anos pela maioria dos produtores, principalmente pelos produtores de carne bovina, mas também por muitos técnicos. No meu ponto de vista não tem como responder a esta pergunta se não for baseado nas etapas iniciais de um programa de gestão, o qual tem inicio na etapa de inventário de recursos, continua com a etapa da emissão de um diagnóstico, depois com um plano de metas, uma análise de viabilidade técnica e econômica (VTE) do projeto em questão e finalizando com um planejamento.

Na etapa de inventário de recursos, considerando que o objetivo principal do projeto aqui será a tomada de decisão entre adubar ou não adubar, é fundamental o levantamento e estudo de dados das normais climatológicas da região onde está localizada a propriedade (volume e distribuição de chuvas; temperaturas mínima, média e máxima; risco de geadas e balanço hídrico) e das classes de solo predominantes na propriedade (seu relevo, sua profundidade e drenagem, mas principalmente sua fertilidade). Ainda nesta etapa de inventário recomenda-se inventariar dados e informações da propriedade (sua localização, áreas total e útil; suas benfeitorias e edificações); das pastagens (espécies forrageiras cultivadas; número, área e formato dos piquetes; método de pastoreio adotado; condição de pressão de pastejo; condição do estande da planta forrageira, a taxa de lotação histórica e atual, etc); infraestrutura (fonte de água, cochos para suplementos, sombreamento, área de lazer, suas medidas e estado de conservação); infestação por plantas infestantes e pragas; do rebanho (atividade, se produção de carne ou de leite; se de carne, qual a fase do ciclo pecuário, se cria, se ciclo completo, se recria e engorda; o calendário de manejo dos animais ao longo do ano; os pesos corporais médios das categorias animais do rebanho); o mercado regional (preços de terra e de animais; alternativas de uso da terra etc); os índices técnicos, os custos de produção e o resultado econômico da atividade pelo menos do ultimo ano,  e por fim os objetivos e metas do produtor. 

Com base no inventario o técnico irá elaborar e emitir um diagnóstico da situação atual e do potencial daquele projeto em questão. Mais uma vez considerando que o objetivo aqui é responder à pergunta “adubar ou não adubar” é preciso calcular qual é o potencial do ambiente para a produção de forragem (kg de matéria seca/ha/ano), a qual determinará a capacidade de suporte da pastagem (UA/ha). E estes potenciais por sua vez são calculados com base no volume e distribuição de chuvas associado com a temperatura média do ambiente (para pastagem não irrigada) e ainda o balanço hídrico (para pastagem irrigada) e a fertilidade do solo. Somente para destacar: em 29 anos fazendo estes cálculos, em 99% dos ambientes avaliados, a fertilidade do solo sempre foi o fator que limitou explorar o potencial de produção dos sistemas de produção acompanhados. E detalhe, sempre puxando o potencial para baixo já que a fertilidade natural dos solos sob pastagens do país é classificada como de muito baixa e baixa fertilidade.

Na etapa de diagnóstico é importante avaliar se o produtor já está num nível de gestão da atividade que possibilita ele investir na intensificação da produção por meio de correção e adubação do solo e ter sucesso técnico:econômico. Por exemplo, se suas pastagens ainda estão infestadas por plantas infestantes é preciso ele ou ela primeiro investir no seu controle porque mesmo em solos corrigidos e adubados a presença de plantas infestantes reduz a resposta da pastagem à adubação. A produção de forragem em pastagem sem a presença de plantas infestantes foi 21, 57 e 66% mais alta que nas pastagens com baixo, médio e alto nível de infestação.

Uma vez cumprida a etapa do diagnóstico é possível dar uma perspectiva para o produtor de qual é o potencial do sistema para então ele estabelecer os seus objetivos e metas no intervalo entre o resultado atual que ele alcança e o resultado potencial. Na maioria das vezes o produtor tem como parâmetro para estabelecer sua meta a variável “taxa de lotação”, mas é possível e recomendo estabelecer as metas em produto animal que será de fato comercializado, ou seja, kg ou arrobas ou litros de leite/ha/ano.

Uma vez estabelecidas as metas recomendam-se que o técnico elabore uma viabilidade técnica:econômica (VTE) do projeto para cenários de baixa e de alta nos preços do produto que o produtor produz.

Um parêntesis: na minha experiência, como professor (desde 1991), pesquisador (desde 1992), gerente de fazenda (entre 1991 a 1994) e consultor (desde 1994) não me lembro de ter feito uma VTE da intensificação da produção por meio de correção e adubação do solo da pastagem cujo resultado tenha sido negativo.

Sendo viável vamos para a etapa do planejamento em cenários de curto, médio e longo prazo, apresentação deste planejamento para a equipe da propriedade e a partir daí um programa de treinamentos frequentes para que a equipe execute cada etapa com procedimentos padronizados e controle dos resultados.

Na etapa de execução recomenda-se iniciar o manejo da fertilidade do solo (correção e adubação) por uma pequena área da propriedade e nas melhores áreas, em piquetes com o melhor estande da planta forrageira, com pressão de pastejo ajustada, sem plantas infestantes e pragas de solo; com adequada infraestrutura de piquetes, cochos, fontes de água, sombreamento e área de lazer).

Após a escolha das áreas cujos solos serão corrigidos e adubados o programa de manejo da fertilidade de solos deverá contemplar as seguintes etapas: a) escolha da área cujo solo terá sua fertilidade corrigida e adubada; b) medição e mapeamento desta área; c) amostragem de solo e de planta e envio das amostras ao laboratório; d) análise laboratorial; e) interpretação dos resultados de análises de solo e de planta e recomendações de correção e adubação; f) planejamento e execução do programa; g) práticas corretivas: calagem, gessagem, fosfatagem, potassagem, correção de micronutrientes, correção de matéria orgânica; h) práticas de adubação: com cálcio, magnésio, fósforo, potássio, enxofre, micronutrientes, nitrogênio; i) tipos de adubação: química, orgânica, orgâno-mineral; j) métodos de aplicação: manual, tração animal, tratorizado, aéreo, foliar, fertirrigação; k) avaliação dos resultados: resposta técnica e econômica; l) avaliação de impacto ambiental.

Por fim é fundamental proceder uma avaliação de VTE para a tomada de decisão entre “adubar x não adubar” e se for adubar, qual nível de correção e adubação.

A avaliação de resultados de VTE de nove propriedades, uma no Mato Grosso do Sul, três em Goiás, duas no Tocantins e três em Minas Gerais, permitiu a conclusão de que para passar do nível de exploração que os pecuaristas alcançavam no período chuvoso, de 1.5 UA/ha e 5.4 @/ha para o primeiro nível de intensificação, de 3,25 UA/ha e 17.9 @/ha, o custo da arroba produzida aumentou de R$ 53 para R$ 80/@, enquanto a lucratividade reduziu de 14 para 10.2%, apesar do lucro por hectare ter aumentado de R$ 399 para R$ 981 e a relação de beneficio:custo da correção e adubação ter sido positiva, de R$ 1.49 para cada R$ 1 gasto.

A partir do primeiro nível de intensificação, de 3.25 UA/ha e 17.9 @/ha, concluiu-se que quanto maior foi o nível de intensificação, até 8.75 UA/ha e 53.4 @/ha, maiores foram os ganhos em: 1)redução no custo médio da arroba produzida, de R$ 80 para R$ 66; 2)aumento no lucro por hectare de R$ 981 para R$ 3.581; 3)aumento da relação benefício custo da correção:adubação de R$ 1.49 para R$ 2.15 para cada R$ 1 gasto; e 4)aumento da lucratividade, de 10.2 para 14%.

Detalhe – desde antes da adoção de um programa de correção e adubação dos solos de suas pastagens os índices técnicos e econômicos alcançados por aqueles pecuaristas já estavam acima dos alcançados na média pelos pecuaristas brasileiros.

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor de Forragicultura e Nutrição Animal no curso de Agronomia, de Forragicultura e Pastagens e Plantas Forrageiras no curso de Zootecnia nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda.

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