Saiba tudo sobre os índices produtivos na pecuária de corte

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O Brasil tem o maior rebanho comercial do mundo, com índices produtivos excelentes. Temos boas condições de trabalho, principalmente, com a produção da arroba mais barata a pasto. Há animais de genética para a produção de carne de qualidade. Nosso papel, atualmente está em ganhar em produtividade e o que nos tornará cada vez mais eficientes são as ferramentas de gestão.

Para se ter precisão na gestão precisamos trabalhar com números da atividade pecuária que nos mostram a realidade da fazenda, que nos fazem traçar planos para melhoria da atividade na prática.

É essencial identificarmos rapidamente as áreas que necessitam de melhorias, a fim de agirmos prontamente sobre elas. Embora enfrentar esses desafios possa causar algum desconforto inicialmente, essa abordagem resultará em maior lucratividade. Na pecuária moderna, não podemos mais nos contentar em plantar “acho” e colher “quase”.

Quais os índices produtivos mais relevantes na produção de carne bovina?

Ser bom na pecuária requer habilidades tanto em números quanto em relacionamentos interpessoais. Ter habilidade com números implica em ser capaz de entregar produção eficiente, enquanto ser “bom de gente” envolve construir e manter resultados excepcionais com uma equipe de excelência.

Entre os mais de cem índices produtivos possíveis de coleta e acompanhamento, quatro índices são determinantes:

  1. Desembolso (R$/cabeça);
  2. Ganho diário (kg/dia);
  3. Valor de venda (R$/arroba);
  4. Taxa de lotação (UA/ha).
  • Desembolso refere-se ao valor gasto por cabeça ao mês, ou seja, o valor total gasto dividido pelo rebanho médio no período.
  • Ganho diário é o ganho de todas as categorias na fazenda (kg/cabeça/dia).
  • O valor de venda é ditado pelo mercado, podendo ser expresso em reais por arroba ou reais por quilo.
  • A taxa de lotação mede a quantidade de animais ou quilos de peso por unidade de área (UA/ha).

A receita na fazenda é determinada pela combinação dos índices produtivos de lotação, ganho diário e valor de venda. Por outro lado, a despesa é definida pelo desembolso.

Nosso objetivo deve ser criar uma boa distância entre eles. Estatisticamente, o valor de venda possui o menor impacto no lucro, seguido pela lotação.

Já o ganho diário e o desembolso por cabeça ao mês são os dois elementos mais importantes para determinar o resultado. Para ser mais específico, o custeio fixo afeta negativamente o lucro, enquanto o ganho de peso tem um impacto positivo.

O resultado financeiro é dependente de uma operação produtiva e equilibrada e é executado por pessoas dirigidas por uma liderança e uma cultura organizacional voltadas ao resultado. 

Por qual motivo é relevante analisar os índices produtivos na pecuária?

A análise dos índices produtivos na pecuária é relevante por diversos motivos. Permite avaliar a eficiência da produção pecuária, ou seja, a capacidade de produzir mais com menos recursos. Índices produtivos mais altos podem resultar em maior rentabilidade na pecuária. Além disso, as análises também possibilitam identificar animais com melhor desempenho e utilizá-los como reprodutores para melhorar a qualidade genética do rebanho.

Analisar os índices produtivos também contribui para uma pecuária mais sustentável, pois maior eficiência produtiva implica em menor utilização de recursos naturais, como alimento e água, para produzir uma determinada quantidade de produto.

Saiba mais detalhes sobre três índices produtivos essenciais para a pecuária:

Arrobas por hectare ano (@/ha/ano)

Todo pecuarista deve saber qual é a sua produção de arrobas por hectare. Esse é um dos índices produtivos que representa o começo de tudo, o alicerce de um bom projeto. Esse é o número mais importante para relacionar a produção com a área de forma inteligente.

Ao obtê-lo, é possível conhecer a realidade nua e crua da fazenda, evidenciando o resultado produtivo do negócio e refletindo em diversos outros indicadores. Caso a fazenda não possua nenhum índice, é necessário começar identificando este, pois este é abrangente e fácil de calcular.

Para calcular a produção de carne em uma determinada área, é necessário determinar o número médio de animais por hectare a cada ano. Por exemplo, na fazenda X, é possível criar em média 1 UA (unidade animal) por hectare por ano, o que representa 450 kg de peso vivo por hectare por ano. Considerando um rendimento médio de carcaça de 50% para animais criados a pasto, teríamos 225 kg de carcaça por hectare ao longo do ano. Dividindo esse valor por 15, que é o peso de uma arroba, chegamos a uma produção de 15 arrobas por hectare por ano.

Como referência, no Rally da Pecuária da ATHENAGRO de 2023, os entrevistados apresentaram uma produção média em ciclo completo de 12,88 arrobas por hectare por ano, enquanto as melhores 25% das fazendas alcançaram uma produção de 22,6 arrobas por hectare por ano.

O aspecto mais gratificante desse índice é a demonstração da capacidade da fazenda em alimentar as pessoas. Em média, uma fazenda brasileira alimenta menos de dois indivíduos por hectare ao ano.

No entanto, considerando a média de produção brasileira de 4 @ e um consumo médio de 35 kg de carne por brasileiro, uma fazenda que produz 24 @/ha/ano consegue alimentar dez pessoas, ou seja, cinco vezes mais.

Essa diferença expressiva não é observada na agricultura, onde a diferença entre os produtores menos e mais eficientes não é tão significativa. Por exemplo, na cultura da soja, a média de produção é de 55 sc/ha/ano, enquanto as melhores propriedades alcançam cerca de 68 sc/ha/ano, representando apenas uma variação de 28%. Esses dados ressaltam a enorme capacidade de crescimento na pecuária.

Vale ressaltar que saber a produção em arrobas por hectare ao ano traz a informação clara sobre quanto é o lucro que a terra oferece. Por outro lado, também incentiva o controle de outros dois índices produtivos importantes que são a taxa de lotação e o ganho de peso médio diário (GMD) do rebanho.

Ganho médio diário (GMD)

O índice de ganho médio diário, que mostra quantos quilos em média o rebanho ganhou por animal por dia durante um período de avaliação, é um dos mais importantes entre os outros 70 indicadores produtivos dentro de uma fazenda. Este índice tem impacto no resultado da atividade, pois potencializa a produção na fazenda, reduz a idade ao abate e gera faturamento.

Melhorar o GMD possibilita obter ganhos em giro e margem ao mesmo tempo. Esse é o sonho possível de qualquer empresário da indústria que não consegue alavancar os dois indicadores simultaneamente.

No segmento da pecuária, é possível aumentar o giro e a margem, pois quanto maior for o GMD, menor será o tempo de permanência do animal na fazenda. O animal que atingir o peso de abate mais cedo é negociado mais cedo. Quanto menor for o tempo de permanência, maior será a proporção abatida ao ano e haverá um aumento no giro da fazenda.

Por exemplo, em uma fazenda que tem um GMD animal de 0,4 kg, demora 29 meses para esse animal chegar ao abate. Se ela começar a aumentar o índice para 0,5 kg, passa a abater os animais com 24 meses. Aumentando ainda mais para 0,6 kg, passa a abater com 19 meses.

Por outro lado, a margem é impactada principalmente pela diluição dos custos fixos que representam mais de 50% do total. Quanto mais rápido o animal é abatido, menor é o pedágio que ele paga para os custos fixos e, portanto, maior é a margem do pecuarista.

Se a maior parte das fazendas gasta R$20,00 ao mês de custo fixo por animal, no fim de 24 meses há uma despesa de R$480,00. Se ele ficar 20 meses, a despesa cairá para R$400,00; assim é possível até investir ainda mais em insumos e tecnologia para aumentar ainda mais o ganho do animal.

Lotação (UA/ha)

Uma pergunta que sempre o pecuarista tem em mente é: quantos animais devo colocar em uma determinada área ou piquete dentro da fazenda? Quantos animais cabem em uma fazenda de 1.000 ha?

Apesar de ser um indicador para o qual temos algumas referências, essa é a pergunta mais difícil de ser respondida na pecuária, pois há variações até mesmo dentro da própria fazenda. O que sabemos é que, independentemente do resultado, ela precisa ser controlada.

No passado, quando iniciamos o processo de registro de métricas, projetos com 1,2 UA se posicionavam entre os mais rentáveis. Hoje em dia, esse número deve superar as 1,7 UA. Porém, como foi esclarecido anteriormente, a lotação sozinha não representa poder de conclusão, devendo sempre ser acompanhada pelo ganho médio diário.

A lotação é um índice de fácil entendimento e já calculado pela maioria. Ela se expressa sempre em carga animal da fazenda, ou seja, a quantidade de animais por unidade de área.

A taxa de lotação é uma medida de referência internacional e deve ser calculada em Unidades Animais (UA) por hectare, lembrando que 1 UA equivale a 450 kg de peso vivo. Há quem trabalhe com a lotação de cabeças por hectare, porém, nesses casos, não há a mesma precisão, pois há diferença de peso entre as categorias de animais dentro da fazenda e até mesmo dentro da mesma categoria.

A preocupação com a lotação não está relacionada à questão produtiva do animal, mas sim ao volume de cabeças em determinada área. Ela não explicita se o animal está bem nutrido ou alimentado, com um bom escore corporal ou ganhando peso. Então, por que é tão importante?

O acompanhamento da lotação é relevante para demonstrar quanto o produtor tem em estoque por unidade de área no decorrer de certo período. É uma medida cuja série histórica traz muita informação, principalmente se for associada ao GMD (ganho médio diário).

Quando multiplicamos a lotação pelo GMD, temos o volume da equação produtiva, ou seja, reunimos informações de giro, margem e volume.

Qual o indicador ambiental mais relevante para pecuária de corte?

A medida ambiental mais usada na pecuária de corte é a emissão de gases de efeito estufa (GEE), medida em quilos ou toneladas de CO2 equivalente. Esse indicador é de muita relevância devido à associação geralmente feita entre as emissões causadas pelos animais, devido à fermentação entérica dos bovinos e ruminantes em geral.

Se for pertinente, outros indicadores poderão ser futuramente agregados na pecuária, já que é uma tendência mundial a produção de proteínas de origem animal com emissão neutra. Ou seja, a pecuária é parte de um sistema que, apesar de emissora, também atua como neutralizadora, com o acúmulo de carbono no solo por meio das pastagens e sua renovação diária de nutrientes no solo.

bovinos da raça nelore na pastagem e ao fundo uma instalação para manejo

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