Você já ouviu falar em sistema ILPF? A sigla significa Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta, se você quer saber mais sobre este sistema, neste artigo aprofundaremos mais sobre o tema. Continue a leitura!
A atividade agrícola é, atualmente, um dos setores mais dinâmicos da economia brasileira. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/ESALQ-USP), juntamente com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro cresceu 3,86% em 2021.
As transformações econômicas, socioculturais e ambientais que vêm ocorrendo nas últimas décadas, impõe aos sistemas de produção de alimentos o grande desafio de aumentar a sua produção e oferta de alimentos, preservando os recursos ambientais disponíveis ao mesmo tempo.
Essas questões têm reforçado a necessidade de discutir, avaliar e validar os modelos de produção de alimentos utilizados no mundo. E, é dentro desse contexto que os sistemas de Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta vem se destacando e se tornando uma alternativa interessante aos produtores rurais, independentemente de sua escala de produção.
Base do sistema ILPF
Os sistemas de Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta são definidos como forma de uso e manejo da terra, onde árvores ou arbustos são utilizados junto com as culturas agrícolas e produção de forragens para produção animal.
Ou seja, em uma mesma área conseguimos integrar três importantes atividades do setor agropecuário, a silvicultura, agricultura e pecuária de forma simultânea ou sequencial, com o objetivo de aumentar a eficiência de utilização dos recursos do solo e preservar o meio ambiente, reduzindo a necessidade de abertura de novas áreas para exploração.
No Brasil, a implantação e uso dos sistemas ILPF vem crescendo ano após ano, e foi impulsionada a partir da criação do plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono). O qual tem por finalidade organizar e planejar as ações que serão adotadas visando a produção sustentável.
Vantagens e desvantagens do sistema ILPF
Os benefícios dos sistemas de Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta normalmente são classificados em quatro grandes grupos. Veja-os a seguir!
Benefícios agronômicos
Estes se dão através da recuperação e manutenção das características produtivas do solo, onde ocorre um maior aproveitamento dos nutrientes pelo aumento da sua captação em maior profundidade no solo pelas raízes, especialmente das gramíneas, melhorando a qualidade física, química e biológica desses solos.
A deposição de folhas das árvores aumenta as entradas de matéria orgânica e fixação de N atmosférico. Além disso, o sistema proporciona grande melhoria no controle da erosão, contribuindo com a retenção e infiltração de água dentro do ecossistema.
Benefícios econômicos
Estes ocorrem através da diversificação de produtos produzidos dentro de uma mesma área (madeira, carne e/ou leite e grãos), diluindo os custos de produção entre as culturas implantadas, reduzindo a necessidade de exploração e abertura de novas áreas para cultivo e aumentando a eficiência do uso de máquinas e implementos agrícolas.
Benefícios ecológicos ou ambientais
Isso se deve basicamente ao aumento da eficiência produtiva dessas áreas, com o uso racional dos recursos naturais, principalmente quando falamos de solo, também conhecido como efeito poupa terra (Vieira Filho, 2018).
Os dados têm demonstrado que os sistemas ILPF contribuíram com cerca de 11% do total produzido no estado do Mato Grosso na safra 2017/2018, com essa intensificação na produção, os sistemas ILPF conseguiram poupar cerca de 388 mil hectares de pastagem (Reis et al., 2020).
Outro ponto positivo e que vem sendo amplamente discutido e divulgado por pesquisas é seu potencial para redução da emissão de gases causadores do efeito estufa.
De acordo com Reis et al (2020), para a safra 2017/2018, também no estado do Mato Grosso, a redução nas emissões dos gases de efeito estufa foram da ordem de 3,8 milhões de tCO2eq (toneladas de CO2 equivalente), considerando uma área de 2 milhões de hectares de ILPF. Ambas as características vêm de encontro com as necessidades da nova agricultura.
Benefícios sociais
Com a geração de maior receita ao longo dos anos e maior demanda de mão de obra, o que gera maior volume de empregos no meio rural.
Quais são as formas de iniciar um sistema ILPF?
Podemos identificar três modalidades distintas dentro da implantação dos sistemas ILPF:
1) a agricultura é introduzida nas áreas de pastagem;
2) a pastagem é introduzida nas áreas de lavoura;
3) o componente florestal é introduzido nas áreas de pastagem ou lavoura.
O tempo de utilização da lavoura e da pecuária em conjunto com o componente florestal, irá depender do sistema adotado e do perfil produtivo da região.
Por exemplo, podemos iniciar o sistema com lavoura por alguns meses a cinco anos, retornando após esse período com o sistema pecuário e vice-versa.
Conforme mencionado no artigo anterior (Vantagens e desvantagens da Integração-Lavoura-Pecuária), os benefícios do uso da pastagem em sistemas de cultivo de grãos são:
- Reestruturação física do solo em função das raízes deixadas pela pastagem;
- Rotação de culturas o que irá contribuir para a redução e controle de pragas e plantas daninhas;
- Produção de palhadas para o plantio direto;
- Aumento no teor de matéria orgânica do solo.
Já a entrada da cultura de grãos em áreas de pastagem, tem como principal objetivo a recuperação da fertilidade do solo e redução da degradação das pastagens.
A figura 1 ilustra de maneira prática os benefícios do uso dos sistemas ILPF.
Por outro lado, vale ressaltar que, por se tratar de um sistema complexo onde envolve o cultivo de diferentes espécies em uma mesma área, pode existir aumento de competição entre espécies, principalmente por luz. Ou seja, se o sistema não for bem dimensionado e orientado de maneira correta para atender os objetivos do produtor, pode haver perdas em produtividade tanto no sistema agrícola quanto pecuário.
A presença das árvores quando mal dimensionadas pode influenciar de maneira negativa o desenvolvimento das plantas devido ao sombreamento da área.
Além disso, árvores que apresentam grande queda de folhas com baixa decomposição desse material podem prejudicar a rebrota das pastagens ou a germinação dos grãos das culturas agrícolas, ou até mesmo criar um ambiente propício para fungos e outros agentes patógenos.
Por esses motivos, a escolha da espécie arbórea que irá compor o sistema ILPF é de grande importância. Para essa escolha, o produtor deve levar em consideração as condições locais e os objetivos do seu sistema de produção.
As árvores devem apresentar um rápido crescimento e ser adaptadas ao clima da região. Essa escolha também deve ser feita com base no potencial do mercado madeireiro ao qual o produtor quer atingir (madeira nobre para indústria moveleira, palanques para cercas e construção civil, entre outros).
Outro ponto importante que o produtor deve levar em consideração é a disposição dos renques de árvores dentro da área para que a entrada de luz no sub-bosque (a nível de solo), seja favorecida e para facilitar o tráfego de máquinas agrícolas.
Sempre que possível, para otimizar a entrada de luz no sub-bosque, a orientação do plantio das árvores deve seguir o sentido Leste-Oeste.
Vários estudos realizados no Brasil com diferentes espécies de árvores, têm mostrado que espaçamentos inferiores a 25 metros entre renques comprometem o desenvolvimento das cultivares implantadas a nível de solo (pastagens e culturas agrícolas), especialmente quando adota-se fileiras duplas e/ou triplas de árvores.
De maneira geral, quando pensamos na adoção de sistemas ILPF, é preciso ter em mente que as estratégias de implantação e manutenção precisam ser acompanhadas de maneira efetiva visto que a tomada de decisão referentes ao manejo desses sistemas torna-se muito mais complexas quando comparado aos sistemas de produção convencionais (baseados em monocultivo).
Por tanto, o produtor precisa ter em mente que um dos pontos chave para o sucesso ou insucesso do sistema, gira em torno de uma assistência técnica de qualidade e de uma excelente gestão da propriedade.
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Artigo escrito por Eliana Geremia | Especialista em Desenvolvimento de Mercado em Pecuária da Mosaic Fertilizantes
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