Vaca que pare magra emprenha menos

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A avaliação do escore de condição corporal ou ECC, é a ferramenta mais adequada para se avaliar o estado nutricional das vacas e permite aos produtores identificarem as reservas de gordura dos animais.

Além disto, a condição nutricional (avaliada pelo ECC) é relacionada ao desempenho reprodutivo das matrizes: vacas que parem com ECC em torno de 5 a 7 (na escala de 1 a 9) têm mais chance de emprenhar novamente na estação de monta seguinte e possuem menor período de anestro após o parto.

O ECC da vaca ao parto também afeta o bezerro. Vacas que parem muito magras têm crias magras e fracas e produzem menor quantidade de colostro, responsável por transferir imunidade para a cria.

Veja na Tabela 1 que o tempo gasto para o bezerro se levantar para fazer a primeira mamada foi menor e a concentração de imunoglobulinas no sangue destes bezerros foi maior (quanto maior a concentração de imunoglobulinas, maior a imunidade do animal) para bezerros nascidos de vacas com escores 5 e 6. Esta maior concentração sérica de imunoglobulinas de bezerros filhos de vacas com melhor condição corporal é resultado da combinação da maior produção de imunoglobulinas pelas vacas e o aumento do vigor do bezerro.

Tabela 1. Efeito do escore de condição corporal da vaca ao parto sobre o tempo gasto para a cria se levantar e a concentração de imunoglobulinas no recém nascido

ItemEscore de condição corporal ao parto
3456
Tempo gasto do nascimento até o bezerro se levantar (minutos)59,963,643,335,0
Concentração sérica de imunoglobulinas totais (mg/mL) 24h após o consumo de colostro2.192,92.351,02.445,42.653,0

Adaptado de: Selk (1999)

Os ganhos em fertilidade e vigor das crias ao nascimento aumentam substancialmente à medida que o ECC aumenta de 1 até 5. A partir daí os ganhos em produtividade são menores para cada incremento de uma unidade de ECC. Já que, de forma geral, o custo de se alimentar matrizes para parirem com um ECC 7 supera as vantagens econômicas obtidas, recomenda-se manejar as matrizes adultas de forma a parir com ECC 5 e as novilhas e primíparas com ECC 6. Isto proporcionaria um bom equilíbrio entre os resultados técnicos e econômicos.

O primeiro passo para se utilizar a condição corporal no manejo nutricional das matrizes é se avaliar corretamente o escore da matriz. O NRC (2000), baseado em uma metodologia proposta por Herd & Sprott (1986), recomenda a avaliação do ECC em rebanhos de corte numa escala que vai de 1 a 9 (Tabela 2).

Tabela 2. Sistema de avaliação visual do escore de condição corporal de bovinos

GrupoECCDescrição
Magra1Extremamente magra, vaca emaciada. Sem nenhuma gordura palpável sobre os processos vertebrais espinhosos e transversos, sobre os ossos da garupa e costelas. A inserção da cauda e as costelas são bastante proeminentes.
2Muito magra, mas a inserção da cauda e as costelas são menos proeminentes. Os processos espinhosos são ainda proeminentes, mas já se nota alguma cobertura de tecido na garupa.
3As costelas ainda podem ser individualmente identificadas, mas não tão pontiagudas ao toque. Existe gordura palpável sobre a espinha e inserção da cauda e alguma cobertura sobre as costelas.
Limite4As primeiras costelas não são individualmente tão óbvias visualmente, mas ainda se pode notar a 12ª e 13ª costelas. Os processos espinhosos podem ser identificados individualmente pela palpação, mas percebe-se que são mais arredondados que pontiagudos. Nota-se também um pouco de gordura sobre a garupa.
Moderada a ótima5Possui boa aparência geral. À palpação a gordura sobre as costelas parece esponjosa, a 12ª e 13ª costelas só serão notadas se a vaca tiver sido submetida a jejum. As áreas nos dois lados da inserção da cauda apresentam gordura palpável.
6É preciso aplicar pressão firme sobre a espinha para sentir os processos espinhosos. Há bastante gordura palpável sobre as costelas e ao redor da inserção da cauda.
7A vaca tem aparência gorda. Sobre as costelas sente-se uma cobertura esponjosa e também ao redor da inserção da cauda. Apresenta acúmulos de gordura de forma arredondada, como “bolos” ou “cintos” de gordura. Já se nota alguma gordura ao redor da vulva e na virilha.
Gorda8Vaca muito gorda. É quase impossível palpar os processos espinhosos. A vaca possui grandes depósitos de gordura sobre as costelas, na inserção da cauda e abaixo da vulva. Os “bolos” e “cintos” de gordura são evidentes.
9Vaca obesa e com aparência de bloco. Os “bolos” e “cintos” de gordura são mais protuberantes. A estrutura óssea não é mais visível e é difícil de palpar. A mobilidade do animal pode estar comprometida pelo excesso de gordura.

Adaptado de: Richards et al. (1986) e Herd & Sprott (1986)

A partir de uma correta avaliação, o ECC médio de um lote ou rebanho pode auxiliar, então, na tomada de decisão sobre a necessidade de suplementação, e o tipo e a quantidade de suplemento necessários. Estas questões serão respondidas de acordo com o que a vaca precisa ganhar até o parto, de forma a chegar lá no estado nutricional (ECC) desejado. A Tabela 3, por exemplo, apresenta as recomendações de ganho de peso de uma vaca gestante no terço final da gestação, com 500 kg de peso corporal, de forma que ela venha a parir com um ECC entre 5 e 7.

Tabela 3. Recomendações para matrizes aos 100 dias pré-parto atingirem adequado escore de condição corporal (ECC) ao parto

ECC 100 dias pré-partoECC desejado ao partoRecomendações*Ganho de peso/dia (kg)
15Necessita ganhar mais de 160 kg Viabilidade econômica questionável+1,60
25Necessita ganhar mais de 130 a 160 kg Viabilidade econômica questionável+1,30 a +1,60
35Necessita ganhar mais de 90 a 130 kg+0,90 a +1,30
45Necessita ganhar mais de 70 a 90 kg+0,70 a +0,90
55-7Necessita ganhar cerca de 45 kg para crescimento do feto e placenta+0,45
65-7Necessita ganhar cerca de 25 kg para crescimento do feto e placenta+0,25
75-7Não necessita ganhar peso0,00
85-7Pode até perder cerca de 10 a 45 kg para evitar doenças metabólicas-0,10 a -0,45
95-7Pode até perder cerca de 45 a70 kg para evitar doenças metabólicas-0,45 a -0,70

*As recomendações são com base em uma matriz de 500 kg de peso corporal.

Adaptado de: Beverly (1985)

O próximo passo para se utilizar o ECC como uma ferramenta de manejo nutricional é avaliá-lo em vários momentos ao longo do ano produtivo. Em especial, é importante se avaliar o ECC em épocas estratégicas, como por exemplo: o final das águas/início do outono, o desmame, próximo ao parto e ao início da estação de monta. Com base no escore da vaca nestas quatro épocas, que são críticas para a vaca, podemos delinear ações de manejo para gerenciamento do escore ao menor custo possível durante todo o ciclo reprodutivo.

Um exemplo do uso da condição, combinada ao peso corporal, para a definição do manejo nutricional de matrizes de corte foi apresentado por Fernandes et al. (2014). A metodologia adotada pelos autores envolve a avaliação conjunta do peso e do ECC a cada três meses, com objetivo de acompanhar as flutuações na composição corporal das matrizes do rebanho ao longo do ano. Estas avaliações devem coincidir com o manejo normal da fazenda de forma a se evitar serviço extra.

Com a realização destas avaliações na propriedade rural durante alguns anos, de forma a se observar as variações normais ao longo do ano e de um ano para o outro no status nutricional das matrizes, pode-se estabelecer padrões de suplementação precisos, com foco na eficiência e economicidade no uso dos suplementos.

Utilizando este método em um rebanho de produção intensiva, Braga Neto (2013), observou que matrizes super precoces deste rebanho necessitavam de um aumento na disponibilidade energética da dieta entre os meses de maio e julho (Figura 2). A energia necessária para suprir a deficiência neste período seria da ordem de cerca de 2,5 Mcal/dia, o que correspondia a pouco mais de 1,0 kg de um suplemento concentrado de média densidade energética. Já durante o período de fevereiro a abril observa-se um excedente de energia na dieta, que será depositado como reserva corporal, ou que pode ser uma oportunidade de se reduzir os gastos anuais com suplementação (reduzindo-se a oferta de suplemento nesta fase).

Fonte: Adaptado de Braga Neto (2013)

Figura 2. Variação mensal da energia retida e/ou mobilizada do corpo de matrizes Nelore super precoces em sistema intensivo na região do cerrado.

  1. Estratégias para recuperação do ECC de matrizes

Uma vez definidos a época e o nível de suplementação necessários, sem dúvidas, a forma mais econômica de recuperar o ECC das matrizes é através do pastejo.

Quando não se tem informações detalhadas sobre as variações da composição corporal das matrizes durante o ano, e, considerando-se uma estação de monta durante o período chuvoso do ano (primavera-verão), caso seja necessária uma recuperação do ECC, o período do final do verão até noventa dias antes do parto é a época ideal para esta recuperação. Nesta fase, as exigências relacionadas à gestação ainda não são elevadas e ainda existe pasto de boa qualidade disponível para pastejo.

Neste sentido, a desmana precoce pode ser uma estratégia eficiente para recuperar o escore das matrizes muito magras, especialmente as que pariram pela primeira vez, antes do próximo parto. Em anos com precipitação atípica e reduzida produção de forragem no verão, pode ser recomendado desmamar todo o rebanho, já que é mais econômico suplementar com concentrados o bezerro, e não a matriz.

Se as matrizes não estiverem ainda com condição corporal adequada, outra época interessante para recuperar a condição corporal é durante o terço final da gestação, cerca de 90 dias antes da parição. Nesta fase a matriz já desmamou sua cria e não tem mais a elevada demanda energética para produção de leite. O crescimento fetal, por outro lado, apresenta relevante exigência de energia e nutrientes. A suplementação nesta fase pode, então, ter efeitos positivos para a vaca e também para a cria, via programação fetal. É importante lembrar que esta fase geralmente corresponde à época seca do ano, e a recuperação do escore muitas vezes só será conseguida pelo uso de suplementação concentrada.

 Já a fase do parto até o início da estação de monta não é uma época economicamente interessante para utilização de recursos suplementares para recuperar o escore de matrizes porque a vaca em lactação tem seu metabolismo direcionando principalmente para a produção de leite. Assim, boa parte do que for fornecido será utilizado para aumentar a produção de leite. Suplementar nesta fase, no entanto, pode ser necessário em algumas situações e para categorias mais exigentes, como primíparas e vacas que pariram muito magras ou ao final da estação de parição.

O ideal, em qualquer fase, é se separar as matrizes por ECC, magras e adequadas, e delinear estratégias para recuperação do escore no grupo de matrizes magras e para manutenção da condição no grupo das que já possuem ECC adequado. Atenção especial deve sempre ser dada àquelas matrizes jovens que pariram pela primeira vez.

  • Principais fatores que afetam a produtividade de matrizes de corte

A fase de cria não começa ao parto e sim quando o bezerro ainda está no ventre da vaca. Dessa forma, o primeiro passo para obter alta produtividade é entender as complexas interações que ocorrem nos rebanhos de cria, principalmente a categoria da matriz, a época de parição e a condição corporal.

  1. Categoria da matriz

As diferentes categorias em um rebanho de cria (novilhas, primíparas e multíparas) possuem exigências nutricionais distintas, que, se não forem corretamente atendidas podem afetar negativamente as taxas de fertilidade. Quanto maiores os drenos energéticos das fêmeas (devido à mantença, lactação e/ou crescimento), menores serão as taxas de prenhez, se essa necessidade não for atendida. Isso ocorre porque a prioridade na alocação dos nutrientes varia em função do estágio fisiológico em que o animal se encontra, ou seja, o direcionamento da energia que ela consome diariamente segue uma ordem de prioridade, e a reprodução é uma das últimas nesta ordem de importância.

Seguindo a mesma lógica, quanto maior o dreno energético, menor será peso a desmama do bezerro, porque a mãe pode não ser capaz de produzir a quantidade de leite necessária para um máximo crescimento do bezerro. Diante disso, percebe-se que, oferecer a mesma estratégia nutricional para as diferentes categorias está aquém do ideal e poderá comprometer o desempenho produtivo do rebanho.

  1. Época de parição

A época de parição exerce considerável importância em uma propriedade de cria, influenciando diretamente a quantidade de bezerros nascidos e o peso dos mesmos à desmama.

A importância da antecipação dos partos, de forma que estes ocorram no início da estação de parição pode ser visualizada na Figura 1. Observa-se que as fêmeas que parem no começo da estação de parição terão mais tempo até a estação de monta subsequente, o que favorece a re-concepção. Já animais que parem no final da estação de parição terão menor tempo para se recuperar do parto anterior, o que pode comprometer os índices reprodutivos do rebanho.

Figura 1. Exemplo considerando uma propriedade com estação de monta entre os meses de novembro a janeiro e com período de parição entre setembro e novembro (período de gestação considerado de um animal Nelore de 290 ± 15 dias).

Propriedades com estação de monta muito extensa ou mesmo sem estação de monta definida apresentam muitos animais nascendo em períodos não favoráveis ao desenvolvimento dos bezerros, acarretando em desmamas leves. Já propriedades com estação de monta definida, mas com os partos concentrados no terço final da estação de monta, também apresentam médias baixas de peso a desmama. Assim, a estação de monta é essencial para se melhorar o gerenciamento do rebanho, mas também para concentrar o nascimento de bezerros em períodos mais favoráveis a seu desenvolvimento.

A data de parto pode afetar o desempenho da prole mesmo após o desmame, bezerros nascidos no início da estação de partos têm maior peso ao desmame, e maior peso de carcaça e escore de marmoreio ao abate (Funston et al., 2012), o que pode aumentar o valor das crias ao desmame, por estarem mais pesados, e ao abate, pela melhor qualidade da carcaça.

  • Suplementação estratégica da fêmea

Por muito tempo as estratégias de suplementação em fazendas de cria se limitaram apenas ao uso de misturas minerais. Suplementos proteicos ou proteico-energéticos eram utilizados apenas para recria e engorda de bois. A suplementação mineral é de fato de grande importância, e deve ser fornecida a todos os animais, de todas as categorias do rebanho, durante todo o ano. A suplementação com concentrado, por outro lado, deve ser pontual e direcionada, focada categorias, animais e fases que necessitam de maior aporte de nutrientes.

Quando se questiona quais nutrientes devem ser suplementados a uma matriz, deve-se considerar que, de forma geral, todos os nutrientes que são necessários para o adequado funcionamento do organismo são também importantes para a reprodução. Do ponto de vista nutricional, pode-se destacar a deficiência energética como a principal causa das baixas taxas de concepção dos rebanhos de corte (Bearden & Fuquay, 1992).

Por outro lado, apesar de a energia ser o fator mais limitante para a reprodução, geralmente, para animais mantidos em pastejo, a deficiência de proteína é o principal fator a limitar o consumo, e, consequentemente, a ingestão de energia pela matriz. Isso ocorre porque o consumo de pasto diminui à medida que o teor de proteína na forragem cai abaixo de 7%. Essa redução no consumo é devido à falta de nitrogênio no rúmen, o que diminui o crescimento dos microrganismos que digerem a forragem. Isso explica porque a deficiência proteica deve ser a primeira a ser corrigida em um programa de suplementação para matrizes em pastejo (ainda que a deficiência nutricional maior seja de energia).

Os suplementos de natureza proteica (proteicos e proteico-energéticos) são, então, uma boa alternativa para manutenção e recuperação do ECC de matrizes, já que atuam melhorando não só o status proteico dos animais, mas também o status energético, por aumentar o consumo e a digestibilidade da forragem.

  • Gestação: quando e como suplementar

As exigências nutricionais da vaca devido à gestação só aumentam de forma significativa a partir do 5º ou 6º mês, quando ocorre maior crescimento do feto (NRC, 2000; Gionbelli, 2013). Nesta fase, se a nutrição da vaca for deficiente em relação à sua exigência total (que engloba as exigências da própria vaca, mais a exigência do feto e da placenta), ela irá mobilizar os próprios tecidos do corpo de forma a tentar evitar qualquer redução no crescimento da cria. Isso ocorre porque, no caso da vaca gestante, a manutenção da gestação e do crescimento do feto têm elevada prioridade em relação à deposição de reserva de energia no corpo.

Por outro lado, o status nutricional pré-parto é o fator que mais influencia o intervalo do parto à re-concepção. Apesar de o consumo de nutrientes pós-parto ter efeito modulador sobre a duração do anestro, mesmo se uma vaca que pariu muito magra ganhar peso após o parto, a ovulação ainda ocorrerá mais tardiamente quando comparada a outra vaca que tenha parido em boa condição corporal e mantido o peso no pós-parto (Wettemann et al., 2000).

Assim, a suplementação no terço final da gestação tem um papel importante na reprodução. Sendo capaz de afetar diretamente vários aspectos da fisiologia da fêmea, esta técnica torna-se uma forma prática e aplicável de se melhorar os índices reprodutivos.

Considerando que a estação de monta ocorra nos meses chuvosos do ano (primavera/verão), o terço final da gestação irá coincidir com a seca, que, em grande parte do Brasil, é caracterizada por uma baixa disponibilidade de pasto e, mais ainda, por uma baixa qualidade deste pasto. A combinação desta baixa qualidade da forragem com a elevada exigência nutricional da matriz gestante nesta fase pode ser desastrosa, não somente para o desenvolvimento dos bezerros que as vacas estão gestando, mas também para a safra subsequente, uma vez que pode comprometer o desempenho reprodutivo da matriz na estação de monta seguinte.

Dessa forma, o terço final da gestação (quando coincidente com a seca) além de ser uma das fases críticas para a recuperação da condição corporal das matrizes, é também a fase em que a introdução de suplementos nutricionais é estratégica e mais econômica.

Quanto ao tipo de proteína fornecida para as vacas gestantes, Lopes et al. (2010) observaram que matrizes gestantes em pastejo, alimentadas com suplementos proteicos onde a ureia (em torno de 12,5% da MS) foi usada em substituição total ao farelo de soja, não tiveram seu desempenho prejudicado em relação ao grupo que recebeu suplemento à base de farelo de soja. Também Valente et al. (2008), observaram que a suplementação de novilhas com suplementos proteico-energéticos com 30% de PB, e níveis variáveis de ureia (até 9% da MS, substituindo totalmente o farelo de soja), aumentou o peso e o ECC de novilhas. Estes autores não observaram diferença entre os suplementos, mostrando que a substituição de fontes proteicas vegetais pela ureia é uma estratégia viável para redução do custo do suplemento fornecido a matrizes gestantes sem redução no desempenho destas.

A suplementação de vacas gestantes no terço final da gestação mostrou que melhorar a nutrição nos últimos 50 a 60 dias pré-parto reduz o intervalo do parto à re-concepção (Randel, 1990; da Silva, 2016). Suplementar neste período de 60 dias pré-parto, ao invés de suplementar durante os 90 dias habitualmente recomendados, se apresenta, então, como uma estratégia eficiente para reduzir os custos relacionados ao fornecimento de suplemento.

  • Pós-parto: quando e como suplementar

Logo após o parto, a exigência energética da fêmea aumenta consideravelmente devido ao início da lactação, ao mesmo tempo em que o consumo não é suficiente para atender essa demanda, resultando em um quadro de balanço energético negativo (BEN). Nesse momento pode ocorrer expressiva perda de peso, pois a fêmea necessita mobilizar reservas corporais para garantir a produção de leite e a sobrevivência da cria. A duração desse período é variável, podendo durar até cerca de 60 dias. Nesta fase, a vaca poderá perder até 2 pontos em escore corporal ou cerca de 70 a 90 kg, se não for suplementada.

Então, suplementar a matriz com suplemento proteico (1 a 3g/kg de peso corporal) do dia do parto até 60 dias pós-parto ameniza a intensidade e duração do BEN, e a vaca perderá menos peso até a entrada em estação de monta. A estratégia de suplementação pós-parto deve ser direcionada, principalmente, para as primíparas, as vacas com baixo escore corporal ao parto e as vacas que pariram no final da estação de monta.

Considerações finais

A separação das fêmeas em lotes por categoria e mês de parição é determinante e o primeiro passo para a implementação da suplementação estratégica, tanto em bezerros, quanto em matrizes. Bezerros nascidos antes serão mais pesados a desmama, como já relatado, com mais facilidade para atingirem as 7 @ ao desmame. Para o último lote de parição será sempre necessário dar algum tipo de aporte nutricional caso o objetivo seja desmamar estes animais com o peso semelhante ao do primeiro grupo. Da mesma forma, filhos de primíparas e vacas muito magras exigirão nutrição diferenciada. Cada grupo de peso médio exigirá um plano nutricional diferente de forma a ganhar cerca de 750 g/dia nesta fase para atingir a meta de peso de 210 kg aos 8 meses.

Porém, deve-se atentar também aos planos nutricionais que serão utilizados nas fases seguintes, que serão relatados em capítulos posteriores. Ressalta-se, por fim, que a estratégia suplementar escolhida deve se adequar ao perfil produtivo e tecnológico do sistema de produção, suas metas produtivas e aos indicadores técnicos e financeiros almejados.

Escrito por João Marcos Beltrame Benatti | Gerente de Produtos para Ruminantes da Trouw Nutrition.

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