Pecuária de precisão é um conceito que aplica tecnologias avançadas no manejo do rebanho para aumentar a produtividade, o bem-estar animal e a sustentabilidade da produção pecuária. Assim como a agricultura de precisão, ela utiliza sensores, softwares, automação e análise de dados para tomar decisões eficientes. Descubra mais sobre o assunto neste artigo. Boa leitura!
O que é e quais são os benefícios da pecuária de precisão?
A pecuária de precisão representa um sistema moderno de produção animal que incorpora tecnologias avançadas para monitorar, analisar e gerenciar o rebanho de forma individualizada e em tempo real (De Montis et al., 2017). Inspirada na agricultura de precisão, essa abordagem tem como objetivo otimizar a eficiência produtiva, elevar o bem-estar dos animais, reduzir desperdícios e promover a sustentabilidade, tanto ambiental quanto econômica, da atividade pecuária.
Ao contrário dos métodos convencionais, nos quais as decisões são tomadas com base em médias do rebanho, a pecuária de precisão permite o acompanhamento detalhado do desempenho e da saúde de cada animal (Mira et al., 2020). Com isso, o produtor passa a contar com dados precisos que o auxiliam a agir de forma mais estratégica e assertiva.
Essa evolução tecnológica está diretamente relacionada às crescentes exigências do mercado por produtos de origem animal que sejam mais seguros, rastreáveis e sustentáveis. Além disso, ela responde à necessidade de aumentar a produtividade sem expandir a área de produção, o que reforça seu papel na busca por soluções mais eficientes.
6 ferramentas da pecuária de precisão
Nesse contexto, a pecuária de precisão envolve o uso de diversas ferramentas tecnológicas, que variam conforme o tipo de produção — seja de corte, leite, confinamento, extensiva ou intensiva — e os objetivos específicos da propriedade. Entre essas ferramentas, destacam-se:
- Sensores de monitoramento animal: Esses dispositivos, acoplados em coleiras, brincos ou tornozeleiras, permitem mensurar em tempo real diversas atividades dos animais, como ruminação, ócio, número de visitas ao cocho e frequência respiratória. Com base nesses dados, é possível identificar, por exemplo, se o animal está em cio, sofrendo estresse térmico ou se a dieta está adequada (Neves et al., 2019), especialmente por meio da análise do número de ruminações por minuto;
- Sensores T-cent: Introduzidos geralmente na vagina dos animais, esses sensores são capazes de registrar as variações de temperatura corporal ao longo do dia. Dessa forma, auxiliam no monitoramento contínuo e na tomada de decisões para prevenir o estresse calórico ou alterações metabólicas que comprometem a produtividade (Wen et al., 2023);
- Estação de alimentação inteligente: Trata-se de equipamentos que controlam o consumo individual de ração, identificando os animais por meio de chips ou sensores. Essa tecnologia possibilita o ajuste da dieta conforme as necessidades nutricionais e o nível de produção de cada animal, contribuindo para a melhoria dos índices zootécnicos (Neves et al., 2019). Um exemplo prático é o uso em sistemas de ordenha robotizada na pecuária leiteira, onde os registros de produção de leite e número de ordenhas diárias indicam se o animal está apto a acessar o robô e receber o volume de ração adequado à sua produção;
- Sensores de ambiente: Esses sensores monitoram variáveis climáticas como temperatura, umidade e velocidade do vento. Essas informações são essenciais para garantir o conforto térmico dos animais. Como aplicação prática, destaca-se o uso automatizado de sistemas de aspersão e ventilação na linha de cocho;
- Tecnologias de rastreabilidade: Consiste no uso de ferramentas que acompanham e armazenam todo o histórico do animal, desde o nascimento até o abate ou venda. Cada vez mais, essas soluções têm se tornado indispensáveis para atender às exigências sanitárias e comerciais dos mercados interno e externo;
- Softwares de gestão pecuária: São sistemas que integram todos os dados coletados pelos sensores na propriedade. Por meio desses softwares, o produtor ou técnico responsável consegue visualizar indicadores de desempenho, saúde, reprodução, alimentação e rentabilidade do negócio (Silva et al., 2021). Com isso, é possível tomar decisões mais estratégicas e assertivas, sempre com foco na sustentabilidade da atividade.
Como implementá-la na produção?
De acordo com o planejamento da propriedade e os recursos disponíveis, a implantação da pecuária de precisão pode ocorrer de forma instantânea ou gradual. Independentemente da velocidade de adoção, é essencial que o processo seja bem estruturado desde o início.
Antes de qualquer investimento, é indispensável realizar um diagnóstico detalhado da propriedade. Esse levantamento deve considerar o tipo de sistema produtivo, o número de animais, a infraestrutura existente e seu potencial de aproveitamento, os principais gargalos (como reprodução, alimentação, sanidade e gestão), além da capacidade financeira e da mão de obra disponível (Neves et al., 2019).
Com base nesse diagnóstico, é possível definir com clareza os objetivos da inclusão da pecuária de precisão no sistema produtivo. Entre os mais comuns, estão: reduzir a mortalidade de animais jovens, aumentar o ganho de peso diário com menor desperdício de alimentos, melhorar a taxa de prenhez e diminuir o uso de medicamentos.
Ter clareza sobre os objetivos é fundamental para orientar a escolha das ferramentas que devem ser priorizadas na fase inicial de implantação.
De modo geral, o produtor pode começar com ferramentas mais simples e de menor custo, como softwares de gestão e sensores de temperatura e umidade. Essas tecnologias iniciais, além de acessíveis, já proporcionam ganhos significativos em conforto térmico e produtividade. À medida que os resultados começam a aparecer e o produtor se sente mais confiante na gestão dos processos, é possível avançar para sistemas mais complexos.
É importante lembrar sempre: qualquer tecnologia só será eficaz quando bem utilizada. Por isso, a capacitação da equipe envolvida no manejo dos animais é um passo indispensável para o sucesso da implantação.
Durante todo o processo, ajustes serão inevitáveis. Os dados gerados pelas ferramentas de pecuária de precisão devem ser analisados tecnicamente, e as decisões precisam ser tomadas com base nessas informações. Essa abordagem orientada por dados é o que garante maior eficiência e sustentabilidade ao negócio.
Pecuária de precisão na prática
Você pode estar se perguntando: na prática, quais são os benefícios reais da pecuária de precisão? Afinal, sua adoção exige um certo investimento.
Um dos principais pontos de dor nas propriedades brasileiras é a eficiência reprodutiva. Com o monitoramento individual dos animais, é possível identificar rapidamente aqueles com baixo desempenho, entender as causas e intervir de forma específica. Isso reduz perdas e otimiza o uso de recursos como ração, medicamentos e protocolos reprodutivos (Rutten et al., 2013).
Outro fator que impacta diretamente a rentabilidade é o bem-estar animal (Porto et al., 2021). Sensores ambientais que monitoram constantemente as condições dentro dos galpões ajudam a evitar o estresse térmico — um dos principais responsáveis pela queda no consumo, aumento da incidência de doenças e redução da eficiência produtiva e reprodutiva.
Portanto, a tomada de decisão baseada em dados reais e individuais — em vez de médias de lotes ou do rebanho — torna a gestão mais técnica, assertiva e econômica. Isso se traduz em redução de custos e aumento da produtividade.
Além disso, a precisão evita tratamentos desnecessários, como o uso indiscriminado de antibióticos, e contribui para a redução da emissão de gases como o metano, diminuindo o impacto ambiental da atividade.
Não é de hoje que a pecuária de precisão vem sendo adotada em fazendas no Brasil e no mundo. Diante de um cenário de crescentes demandas por alimentos, restrições ambientais e exigência de rastreabilidade, o uso de softwares e tecnologias como os mencionados ao longo deste texto se torna um diferencial competitivo, trazendo mais segurança e rentabilidade ao pecuarista. (Gonçalves et al., 2019).
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