Você já ouviu falar em hipocalcemia?
Com forte geração de empregos e renda, a pecuária de leite é uma atividade muito importante para o setor pecuário nacional. O setor em 2019, faturou o valor bruto de R$35 bilhões, já as indústrias de laticínios atingiram patamares de R$70,9 bilhões, ficando atrás dos cereais, café e carne (ABIA,2020).
Por três anos consecutivos a pecuária leiteira registrou crescimento do setor (FAO,2019). O Brasil atualmente é o terceiro maior produtor de leite, ficando atrás da Índia e Estados Unidos.
Para alcançar os patamares atuais, o Brasil precisou aumentar a produção de 18,7 bilhões de litros de leite em 1997 para 33,8 bilhões em 2018, durante esse período o setor aumentou em média 4% ao ano (ROCHA et al.,2020).
A melhoria da produtividade das vacas leiteiras foi fundamental para impactar positivamente no aumento da produção de leite, impactando mais do que somente o aumento no número de cabeças de vacas durante esse período. Ou seja, as vacas foram melhoradas geneticamente e receberam dietas com aporte de nutriente maior, o que favorece o incremento da produção leiteira por cabeça (Vilela et al.2002).
Porém, de acordo com alguns autores (Ingvartsen & Moyes, 2015), vacas com altas produções têm maior predisposição a apresentarem problemas metabólicos.
A maioria dos problemas metabólicos em vacas leiteiras se concentram no período pré e pós-parto. Nesses dois períodos, as vacas passam por diversas alterações fisiológicas, hormonais bem como anatômicas, mudanças essas que preparam as vacas para o parto e produção leiteira. Dessa forma, aumenta a taxa de descarte, decréscimo no desempenho produtivo e reprodutivo (Hayirli et al., 2002; Huzzey et al., 2007).
Um desses problemas é a hipocalcemia. Tema que falaremos mais a seguir. Boa leitura!
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O que causa hipocalcemia bovina?
A hipocalcemia é um desses distúrbios metabólicos mais comuns em vacas leiteiras próximas ao parto. Esse distúrbio consiste em um desequilíbrio na regulação de cálcio sanguíneo 48 horas antes e até 72 horas após o parto.
Em vacas de alta produção se aumenta a intensidade e duração da hipocalcemia fisiológica, na qual o animal precisa alterar a rota de fluxo de cálcio através de outros órgãos e compartimentos onde este mineral tem grande atuação.
Quais os sintomas de hipocalcemia em vacas?
Os sintomas desse distúrbio são, a vaca fica caída após o parto com dificuldades para levantar e que pode levar a óbito do animal.
Vacas acometidas pela hipocalcemia tem maior predisposição para outras enfermidades tais como mastites, metrites, retenção de placenta e deslocamento de abomaso.
Curtis et al., 1983; Goff, 2008; Martinez et al., 2012
Levantamentos de alguns autores mostram que cerca de 50% do rebanho leiteiro é acometido por hipocalcemia (HPC) de maneira subclínica e já é sabido que vacas acometidas por HPC tem o sistema imunológico mais sensível, sendo essas mais susceptíveis a outras enfermidades oportunistas (Reinhardt et al.,2011; Martinez et. al., 2014).
Das raças especializadas na produção leiteira, a raça Jersey apresenta maiores problemas com hipocalcemia, esse fato se deve a alta produção leiteira e concentração de cálcio no leite (Caple., 1991; Radostits., 2002; Goff.,2000).
Das vacas adultas em lactação, cerca de 50% apresentam hipocalcemia na forma subclínica, nas primeiras semanas do início de lactação.
Os sinais subclínicos mais aparentes em vacas acometidas por hipocalcemia são redução do consumo e motilidade ruminal, dessa forma interferindo negativamente no balanço energético dos animais (Dias.,2002).
Tanto a hipocalcemia subclínica quanto a clínica geram diversos problemas, dentre eles os mais importantes, quando diagnosticada, a produção leiteira e retorno econômico são prejudicados.
Como evitar a hipocalcemia e quais são os tratamentos preventivos?
Ordenha
Um manejo que já é recorrente ao gado leiteiro, a ordenha pode ser usada como ferramenta para prevenir e/ou diminuir a incidência de hipocalcemia no rebanho. Ordenhando as vacas no pré-parto, conseguimos acelerar a mobilização de cálcio, dessa forma diminuindo as chances da enfermidade.
Borogluconato de cálcio
A aplicação endovenosa de Borogluconato de cálcio (BGC) com concentração 30% na dose de um grama de cálcio para cada 45 kg de peso vivo é o manejo terapêutico padrão normalmente adotado para melhorar o quadro do animal (Radostits et al., 2002).
Dieta Aniônicas (DA)
Outro manejo que vem sendo utilizado para melhorar o quadro de hipocalcemia é a formulação e utilização de dietas aniônicas (DA). Essas dietas consistem em diminuir as concentrações de sódio (Na+) e potássio (K) e o aumento do Cloro (Cl) e Enxofre (S) nas dietas.
A DA promove uma pequena acidose, em função do consumo de minerais aniônicos, e para manter o equilíbrio, o tecido ósseo secreta bicarbonato (HCO3-), com a finalidade de neutralizar o pH sanguíneo. Ao mesmo tempo, o cálcio é secretado e dessa forma incrementando os níveis séricos (Albani & Silva, 2017; Corbellini, 1998).
Incremento de cálcio nas dietas
É recomendado aumentar a inclusão de cálcio na dieta das vacas leiteiras no pré-parto, dessa forma minimizando a mobilização do cálcio ósseo, assim diminuindo a ocorrência da enfermidade. A inclusão de cálcio na dieta não pode ultrapassar 130g/dia/cabeça (Eddy.,1999).
Uso de magnésio nas dietas
Sabemos que o Magnésio (Mg) tem papel importante no metabolismo do cálcio, pois o Mg interfere na mobilização e absorção do cálcio no intestino, dessa forma ativando a vitamina D (Epicentre,2000). Doses de 12g de Mg/cabeça/dia, consegue manter os níveis ótimos desse mineral que vai auxiliar na absorção do cálcio (Eddy.,1999).
Fósforo
Com o excesso de fósforo na dieta ativará a paratireoide, acontecendo o mesmo mecanismo na falta de cálcio (Radostits.,2002). As doses diárias de cálcio não devem ultrapassar 30g/dia para animais de porte pequeno e 45 g/dia para porte grande, pois o excesso de cálcio vai prejudicar a formação da vitamina D.
A hipocalcemia clínica e subclínica podem estar associadas com diversos problemas da vaca em período de transição (antes do parto e pós-parto), como:
- Retenção placentária;
- Mastite;
- Cetose;
- Torção e/ou deslocamento de abomaso.
A hipocalcemia (HPC) é uma enfermidade que acomete cerca de 50% do rebanho leiteiro de forma subclínica, acarretando vários prejuízos na cadeia de produção leiteira.
Mas como foi descrito acima, temos várias ferramentas disponíveis no mercado para amenizar o impacto negativo dessa doença no sistema produtivo como um todo.
As soluções mais usadas para diminuir a incidência da HPC são ordenha, o uso de Cálcio, Magnésio e dietas aniônicas, pois são alternativas que funcionam, de fácil implementação e menor impacto na produção leiteira.
Artigo escrito por Fábio Ferrari | Especialista em Desenvolvimento de Mercado em Pecuária da Mosaic Fertilizantes
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